terça-feira, 22 de dezembro de 2009

NATAL NAS TRINCHEIRAS


A única coisa que separava os dois exércitos, naquela noite fria de Dezembro de 1914, era um pedaço de terra lamacenta chamado Terra de Ninguém. De repente, um cântico rompeu o ar gelado, celebrando o Natal em alemão, e logo um outro se lhe seguiu, em inglês.

Durante algum tempo, os inimigos deixaram de se guerrear e comportaram-se como amigos. Estima-se que, nesta trégua de Natal não oficial, participaram cerca de cem mil soldados.

Foi um momento único na história da humanidade.

Os presentes tinham sido abertos e o jantar acabara. Depois de um longo passeio pelos campos cobertos de neve, o jovem Thomas aconchegou-se junto do avô e disse:

— Avô, este Natal foi o meu preferido. E tu, tens algum Natal favorito?

— Tenho, Thomas — respondeu o avô Francis. — Passei-o muito longe de casa, durante o primeiro Inverno da Grande Guerra.

— Estiveste na guerra, avô? — perguntou a pequena Nora, subindo para o colo dele. — Foste um herói?

O avô sorriu e sugeriu:

— E se começássemos pelo princípio?

As duas crianças aproximaram-se ainda mais dele.

— Foi em 1914. Os meus companheiros e eu estávamos há já várias semanas no campo de batalha. Sentíamo-nos
sozinhos e assustados, embora tentássemos ser corajosos. Tínhamos passado um mês longo e frio em trincheiras lamacentas, que eram, naquela altura, a nossa casa.

Sabíamos que não haveria tréguas no combate e que passaríamos o Natal ali mesmo. Aquela véspera de Natal aconteceu numa noite igual à de hoje. Os céus estavam a clarear e a geada cobria a Terra de Ninguém, o campo que nos separava dos soldados alemães.

E ali estávamos nós, diante das trincheiras inimigas, à espera… Aparte as bombas e as batalhas, a guerra consiste em esperar. Esperar para ver quem vai dar o próximo passo. Nessa noite, sentimos que iam ser os Alemães. E tínhamos razão. De repente, uma sentinela fez sinal a pedir silêncio e ficámos todos calados. Foi então que um som rasgou o frio da noite gelada.

O som provinha do lado inimigo da Terra de Ninguém e um soldado inglês que sabia alemão disse tratar-se de um cântico de Natal. Em breve, todos os Alemães entoavam a mesma canção. Quando terminaram, decidimos responder-lhes com um cântico de Natal que todos conhecíamos.

Depois, os Alemães entoaram o “Noite Feliz”, ao qual nos juntámos, com a letra cantada em inglês. Foi como se a terra inteira entoasse o mesmo cântico… Nunca pensei que cantar fosse tão sagrado. De repente, a sentinela de vigia gritou:

— Aproxima-se alguém!

E, enquanto apontávamos as espingardas à escuridão de Dezembro, deparámos com algo de extraordinário. Uma figura vinha até nós através da Terra de Ninguém. Numa mão trazia uma bandeira branca, e na outra uma árvore de Natal cheia de velinhas. Era um gesto tão surpreendente e corajoso que não pude deixar de saltar da trincheira e de ir ter com aquele soldado.

Fui o primeiro de muitos. Em breve, todos os soldados de ambos os lados se encontravam fora das trincheiras. Era tudo tão novo e estranho que, no início, estávamos nervosos. Passado pouco tempo, porém, trocávamos já pequenas lembranças – chocolates, conservas de carne, tudo o que pudéssemos partilhar. Quando mostrámos uns aos outros fotografias de casa e da família, deixámos de ser soldados e de ser inimigos. Éramos apenas filhos e pais, longe da família e de casa.

Um dos nossos rapazes trouxe um acordeão e um dos deles começou a tocar violino. E acabámos por improvisar… um baile. Foi uma bela festa de Natal! Mas a alvorada em breve nos anunciou que tínhamos de regressar. Regressar às trincheiras, voltar a esperar. Pensar no que nos tinha acontecido e em qual seria o nosso próximo passo.

Esta é minha recordação favorita de Natal. Hoje sou um homem diferente por causa do rapaz que fui naquela noite.

O avô abraçou os netos com força.

— Será que fui um herói? Penso que, naquela noite, todos fomos heróis.

NOTA HISTÓRICA

Embora este conto seja um relato ficcional, a trégua de Natal de 1914 foi um facto histórico, e teve lugar na linha de batalha entre a costa da Bélgica, a norte, e a fronteira da Suíça, a sul.

Quatro meses antes, no início da Grande Guerra, como a Primeira Guerra Mundial ficou conhecida, milhões de homens por toda a Europa tinham-se alistado em resposta aos apelos dos seus líderes. Muitos achavam que a guerra seria curta e que estaria terminada no Natal. Mas, quando o Inverno começou, milhares de soldados tinham já sido mortos ou feridos e a dura realidade do campo de batalha impôs-se.

Em Dezembro de 1914, as Forças Aliadas (Bélgica, França, e Inglaterra) estavam num impasse com os Alemães, cada um dos lados à espera de que o outro capitulasse. As tropas estavam protegidas por trincheiras cavadas à pressa. Estas valas estreitas, embora mais fundas do que a altura dos soldados, eram parca protecção para o frio invernal.

Entre os dois exércitos havia uma extensão de terreno árido chamada Terra de Ninguém, mais larga do que dois campos de futebol juntos. Nalguns sítios, porém, o intervalo entre as duas facções não excedia os 30 metros. Nestes locais, os inimigos estavam tão perto que conseguiam ouvir-se falar.

Assim tão perto, muito terão pensado no aspecto que teria o inimigo. Estariam satisfeitos por se encontrarem naqueles buracos húmidos, a lutar em nome do Kaiser ou do Rei, ou prefeririam estar em casa? À medida que se aproximava a véspera de Natal, muitos soldados devem ter pensado em casa e na paz. Alguns tinham recebido encomendas da família com ofertas festivas. As próprias famílias reais da Alemanha e da Inglaterra tinham enviado prendas para as suas tropas e a Alemanha tinha mesmo enviado árvores de Natal para os homens que combatiam na frente.

Naquela noite, foram muitos os que quiseram parar de lutar, por breves horas que fosse. Alguns chegaram mesmo a fazer o relato desse evento em diários e cartas.

John McCutcheon; Henri Sørensen
Christmas in the trenches
Atlanta, Peachtree Publishers, 2006
(Tradução e adaptação)


endereço: http://preparandonatal.wordpress.com/2009/11/19/natal-nas-trincheiras/

imagem: escribacafe.com

***

Meus Amigos,

"A melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio de nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida!!


Desconheço o autor"

Que O Natal realmente seja comemorado com o coração, pois ele é o sentimento que levamos pela nosso caminho!!
E que esses sentimentos possa brilhar em pensamentos, conversas e atitudes fazendo do Natal uma extensão do amor ao Cristo.

Feliz Natal!!!!

Com Amor,
Jorge


20 comentários:

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Jorge, meu amigo. Seria tão bom se fosse sempre assim. O mundo estaria melhor, com toda certeza. O ser humano é por natureza bom, eu acredito nisso. Precisamos ter as condições propícias para que esta bondade saia do escuro e permaneça na luz da consciência.
Amigo, foi muito bom estar com você durante este ano. Espero que possamos continuar nossa amizade em 2010. Com amor.

Blogat disse...

Jorge querido,
Silêncio sincero e acolhedor é muito reconfortante...diminui o ruído.
Então,bem de levinho e com poucas palavras;Feliz e Santo Natal.Beijo grande,do fundo de minha alma silenciosa.
Alice

Gianete Pereira disse...

Amigo Jorge, queria ter palavras lindas para dizer-te, mas elas me faltam agora. Te desejo tudo de bom: paz, saúde, tranquilidade, alegria, amor, sublimidada.... Que em 2010 possas continuar com este blog sempre trazendo mensagens edificantes como fez neste ano, e que prospere na sua vida pessoal e familiar. Que Deus nosso Pai, sempre olhe por ti! Que Jesus nosso Mestre sempre guie seus passos. Sempre grata por todos comentários que deixou no meu blog. Um grande abraço! Gianete Rocha

Anônimo disse...

Olá Jorge!
Desejo que você tenha um lindo Natal!
Muito obrigada por seu carinho em meu blog!
Sempre com comentários super gentis!
Que Deus abençoe você e toda a sua família!
Beijinhos,com carinho!

Norma Villares disse...

Jorge amigo,
Que história linda!
Que as ricas bênçãos vewnha em dobro para você.


O amor e o desejo são as asas do espírito das grandes ações.Johann Wolfgang(poeta alemão).
Achei esta frase muito bonito, encontrei no blog de Tereza Cristina Flor de Caju.

Segue com este amor em seu coração.
Beijinhos

Marcos Takata disse...

Namasté,
Excelente texto.
Feliz Natal, que sua luz brilhe muito pelo ano 2010.

J Araújo disse...

O Natal é um dia festivo e espero que o seu olhar possa estar voltado para uma festa maior, a festa do nascimento de Cristo, ou naquilo que você acreditar dentro de seu coração.

Que neste Natal você e sua família sintam mais forte ainda o significado da palavra amor, que traga raios de luz que iluminem o seu caminho e transformem o seu coração a cada dia, fazendo que você viva sempre com muita felicidade.
São estes os meus mais sinceros desejos.

Abraço

Unknown disse...

Jorge, muita paz, alegrias e bençãos compartilhadas com os familiares.
Que a paz do Cristo esteja em teu coração/.
Beijos

Kelly Kobor Dias disse...

Estou passando para agradecer a você que me acompanhou neste meu percurso.
Não peço nada,nao desejo nada nem coisa parecida. Tantos desejos tantos pedidos que já não vale a pena estar a fazer mais...
Mas...Afinal de contas...Também sou gente e mais um pedido não faz mal a ninguém...
Um simples pedido....
Que as pessoas que eu tanto gosto não me deixem nunca...É tudo...
Feliz Natal para todos os blogueiros...Feliz Natal para todos os Meus Amigos...

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

Jorge Querido, lindo texto que escolheu para o Natal! Gostei muito! Um Natal maravilhoso para você e os seus. Beijos. Meu afeto.

Jorge disse...

Maria José,
A guerra é lastimável. Mas ela existe.
Enquantoi o homem não se valorizar, vai querer desvalorizar os outros.

Obrigado pelo 2009 tão maravilhoso, meu Anjo!!!
Beijo,
Jorge

Jorge disse...

Alice do coração,
O silêncio denota grandeza para aqueles que compreendem o silêncio. Vc é uma dessas pessoas.

Obrigado pelo 2009, que ajudaste a fazer deste ano um belo ano!!!

Um beijo,
Jorge

Jorge disse...

Gianente, Anjo Azul,

Porque palavras se o coração é uma prece, uma luz, Amor?
Deixemos que o coração fale, em silêncio, e troquemos vibrações sempre de paz.
Anjo, que o Novo Ano seja de muita luz!!! E obrigado por este ano!!!!

Beijo,
Jorge

Jorge disse...

Sandra,
Alma gentil é a sua, que tão belas mensagens nos trouxe, além do otimismo sempre necessário.
Que a tua alma feliz nos envolva em 2010 e que possamos continuar a fortalecer nossos vínculos de amizade!!!
Um beijo e excelente 2010!!!

Jorge

Jorge disse...

Norma
Finda o anor e só tenho alegrias com você!!
Sentir-te, mesmo que a distância, pelos seus posts e comentários, me é um fonte de energia que me fortalece e anima!!

Que em 2010 possamos continuar esta troca de energias, minha Luz!!!

Um beijo,
Jorge

Jorge disse...

Marcos,
Obrigado por ter gostado do texto.
Um grande incentivo, meu amigo, podes crer.
Que 2010, seja tudo aquilo que almejas, de coração!!

Um grande abraço,
Jorge

Jorge disse...

Amigo J

Sou lhe grato pela visita.
Sermos de Jesus é o objetivo. Estamos a caminho, pela nossa escolha individual.

Amigo, desejo também um 2010 de muitas alegria e realizações!!!
Mais uma vez, obrigado pela visita e volte sempre!!!

Abraços,
Jorge

Jorge disse...

Jeanne, minha linda amiga!

Obrigado por todo este 2009 que tens nos trazido reflexões e amizade tão valiosa!!
Espero que o teu Natal tenha sido maravilhoso, e que 2010 seja muito melhor que o ano que está passando.

Um beijo, com gratidão,
Jorge

Jorge disse...

Kelly,
Somos pedintes, fazer o quê, né?
Faz parte nossa. Eu também peço que a nossa amizade se consolide sempre mais, que o nosso coração se abra sempre mais a Jesus e que possamos compartilhar muitos momentos, mesmo que apenas no blog. Mas sei que isso vai se estender por toda a vida.

Um grande beijo e um excelente 2010!!!

Jorge

Jorge disse...

Lia, anjo bom!!

Quando o homem começar a se conhecer, tenderá para a diminuição da guerra. Porque isso é reflexo da guerra íntima, não é?

Lia, a saudade continua e assim, que o Amor e saudade te envolva e que possas ter um 2010 de muita luz.
Um grande abraço no Gui!!!

Jorge

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