quinta-feira, 20 de maio de 2010

AS JANELAS DOURADAS


O menino trabalhava arduamente durante todo o dia, no campo, no estábulo e no armazém, pois os pais eram fazendeiros pobres e não podiam pagar a um ajudante. Mas, quando o sol se punha, o pai deixava-lhe aquela hora só para ele. O menino subia ao alto de um morro e ficava a olhar para um outro morro, alguns quilómetros ao longe. Nesse morro distante, via uma casa com janelas de ouro resplandecente e de diamantes. As janelas brilhavam e reluziam tanto que ele era obrigado a piscar os olhos. Mas, pouco depois, ao que parecia, as pessoas da casa fechavam as janelas por fora, e então a casa ficava igual a qualquer casa comum de fazenda. O menino achava que faziam isso por ser hora de jantar; então voltava para casa, jantava e ia deitar-se. Um dia, o pai do menino chamou-o e disse-lhe:

— Tens sido um bom menino e ganhaste um dia livre. Tira esse dia para ti; mas lembra-te de que Deus o deu, e tenta usá-lo para aprenderes alguma coisa boa.

O menino agradeceu ao pai e beijou a mãe. Em seguida partiu, tomando a direcção da casa de janelas douradas.

Foi uma caminhada agradável. Os pés descalços deixavam marcas na poeira branca e, quando olhava para trás, parecia que as pegadas o seguiam, fazendo-lhe companhia. A sombra também caminhava ao seu lado, dançando e correndo, tal como ele. Era muito divertido.

Passado um longo tempo, chegou ao morro verde e alto. Quando subiu ao topo, lá estava a casa. Mas parecia que haviam fechado as janelas, pois ele não viu nada de dourado. Aproximou-se e sentiu vontade de chorar, porque as janelas eram de vidro comum, iguais a qualquer outra, sem nada que fizesse lembrar o ouro.

Uma mulher chegou à porta e olhou carinhosamente para o menino, perguntando o que ele queria.

— Eu vi as janelas de ouro lá do nosso morro — disse ele — e vim de propósito para as ver de perto, mas agora elas são só de vidro!

A mulher meneou a cabeça e riu-se.

— Nós somos fazendeiros pobres — disse — e não poderíamos ter janelas de ouro. E o vidro é muito melhor para se ver através dele!

Convidou o menino a sentar-se no largo degrau de pedra e trouxe-lhe um copo de leite e uma fatia de bolo, dizendo-lhe que descansasse. Chamou então a filha, que era da idade do menino; dirigiu aos dois um aceno afectuoso de cabeça e voltou aos seus afazeres.

A menina estava descalça como ele e usava um vestido de algodão castanho, mas os cabelos eram dourados como as janelas que ele tinha visto e os olhos eram azuis como o céu ao meio-dia. Ela passeou com o menino pela fazenda e mostrou-lhe o seu bezerro preto com uma estrela branca na testa; ele falou do bezerro que tinha em casa, e que era castanho-avermelhado com as quatro patas brancas. Depois de terem comido juntos uma maçã, e se terem assim tornado amigos, ele fez-lhe perguntas sobre as janelas douradas. A menina confirmou, dizendo que sabia tudo sobre elas, mas que ele se tinha enganado na casa.

— Vieste numa direcção completamente errada! — exclamou ela. — Vem comigo, vou-te mostrar a casa de janelas douradas, para ficares a saber onde fica.

Foram para um outeiro que se erguia atrás da casa, e, no caminho, a menina contou que as janelas de ouro só podiam ser vistas a uma certa hora, perto do pôr-do-sol.

— Eu sei, é isso mesmo! — confirmou o menino.

No cimo do outeiro, a menina virou-se e apontou: lá longe, num morro distante, havia uma casa com janelas de ouro resplandecente e de diamantes, exactamente como ele tinha visto. E quando olhou bem, o menino viu que era a sua própria casa!

Apressou-se então a dizer à menina que precisava de se ir embora. Deu-lhe a sua melhor pedrinha, a branca com uma lista vermelha, que trazia há um ano no bolso. Ela deu-lhe três castanhas-da-índia: uma vermelha acetinada, outra pintada e outra branca como leite. Ele deu-lhe um beijo e prometeu voltar, mas não contou o que descobrira. Desceu o morro, enquanto a menina ficava a vê-lo afastar-se, na luz do sol poente.

O caminho de volta era longo e já estava escuro quando chegou à casa dos pais. Mas o lampião e a lareira luziam através das janelas, tornando-as quase tão brilhantes como as vira do outeiro. Quando abriu a porta, a mãe veio beijá-lo e a irmãzinha correu a pendurar-se-lhe ao pescoço; sentado perto da lareira, o pai levantou os olhos e sorriu.

— Tiveste um bom dia? — perguntou a mãe.

— Sim! — o menino passara um dia óptimo.

— E aprendeste alguma coisa? — perguntou o pai.

— Sim! — disse o menino. — Aprendi que a nossa casa tem janelas de ouro e de diamantes.

William J. Bennett
O Livro das Virtudes II – O Compasso Moral
Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1996
adaptação


endereço: http://contadoresdestorias.wordpress.com/2007/11/12/as-janelas-douradas/

imagem: contosdeaula.blogspot.com


22 comentários:

Vida*** disse...

As janelas nada mais é que o nosso coração. A verdadeira beleza esta nos olhos de quem sabe enxergar com a alma. Um dia iluminado pra ti.Paz e Luz em seu coração e mente. bjos no coração.

Gislene disse...

OLÁ, JORGE
A FELICIDADE ESTÁ SEMPRE AO NOSSO LADO... BASTA ENXERGARMOS!
QUE LINDO TEXTO, ME FEZ LEMBRAR DO MÁGICO DE OZ, QUANDO DOROTY DISSE QUE NÃO HÁ MELHOR LUGAR NO MUNDO DO QUE NOSSA CASA...
BELO POST, COM DIFERENTES PONTOS PARA SE REFLETIR!
PARABÉNS,
ABRAÇOS.

Kelly Kobor Dias disse...

Adoro suas postagens pois sempre me trazem algum ensinamento. bjs

Anônimo disse...

Texto muito bom. A felicidade existe, mas a gente tem que aprender a perceber... Bjsss

Bloguinho da Zizi disse...

O que dizer?
Lindo é pouco.
Me tocou profundamente.
Sou grata Jorge.
Lembra dos poços. Então.....
beijo

ELIANA-Coisas Boas da Vida disse...

SABE JORGE AS VEZES FICAMOS TÃO PREOCUPADOS COM TRABALHO ATÉ MESMO COM NOSSA POBREZA QUE SÓ CONSEGUIMOS VER BELEZA NO MORRO DOS OUTROS!
DAÍ PARAMOS QUANDO ALGUEM CHAMA NOSSA ATENÇÃO PARA NÓS MESMOS! PARA A FELICIDADE QUE TEMOS É Ñ PERCEBEMOS!

Jorge disse...

Amiga Vida,
o verdadeiro olhar se dá pela alma. Mas estamos tão ligados ao corpo, aos sentidos, que a alma deixamos devidamente guardado.
Um dia, quem sabe, olharemos a nossa casa com os nossos verdadeiros olhos.

Beijo!!!

Jorge disse...

Gislene

basta enxergarmos. O difícil é esse enxergar, não é mesmo?

Um beijo, Anjo!!!

Jorge disse...

Kelly,
busco sempre trazer algo para refletir. Que bom que gostas!!!

Um beijo, minha amiga!!!

Jorge disse...

Marli,

quase sempre é por outras pessoas que passamos a enxergar, não é?
creio fazer parte do aprendizado.

Beijo de luz, minha amiga!

Jorge disse...

Zizi,

É mesmo. Um toque para o nosso despertar. Que os valores íntimos são os mais importantes .

Beijo, ANjo!!

Jorge disse...

Eliana,

damos muito mais valor ao que pertence aos outros realmente.
Mas algo acontece para mudarmos a nossa maneira de ver.

Beijo, com carinho!!!

Marcia disse...

Dá licao tiro o seguinte aprendizado: Muitas vezes, valorizamos nos outros o que existe em nós; por isto precisamos nos amar, ter auto estima, valorizar nossa família, e por fim tudo o que conquistamos, que, com certeza foi com muito esforco. Maravilhoso texto, nao o conhecia.
Beijos, com muito carinho e um lindo dia!

★Isa Mar disse...

Oi Jorge, eu tenho paixão por contos e histórias, e sempre que posso coloco alguns em meu blog
Acho que nos faz refletir e acima de tudo viajar em nosso Eu interior, obrigada!
Te espero no meu cantinho,Namastê!

ValériaC disse...

Jorge meu querido, que estória bela...que nos remete a pensar no quanto muitas vezes olhamos, mas não vemos... no quanto não damos o verdadeiro valor em tudo o que temos... permitamos olhar com nossos olhos da alma para melhor então enxergar...
Tenha um final de semana maravilhoso!
Beijos pra ti anjo amigo!

Valéria

falando.com (quem quiser ouvir) disse...

Jorge, grande amigo!

Que belo conto escolheste para nossa reflexão! Como, às vezes, demoramos a perceber que temos tudo nas mãos, não é mesmo? Outro ponto interessante é observar que a menina tinha o mesmo entendimento que o menino sobre a casa avistada ao longe, ou seja, é importante termos a referência de outras pessoas para que possamos enxergar e entender as coisas de maneira mais clara.

Um ótimo fim de semana!

Abraços,

Fernando C. Salgado.

Jorge disse...

Marcia,

Sim. O que vemos nos outros, é o que temos em nós. Mas por falta de auto-confiança nos projetamos nos outros.

Um beijo, Anjo!!!

Jorge disse...

Cigana amiga,
os contos e histórias tem o poder de nos marcar de uma forma mais eficaz pois nos envolvemos no desenrolar delas.

Um beijo!!!

Jorge disse...

ValeriaC, doce amiga,

não nos valorizamos mesmo. Normalmente colocamos um limite para nós quando, se nos conhecêssemos melhor, veríamos o nosso limite muito mais extenso. Vemos apenas com os olhos quando devíamos ver com a alma.

Um beijo, Anjo!!!

Jorge disse...

Grande amugo Fernando,

muito claro o seu ótimo comentário. Gostei!!!

Um grande abraço!!!

Blog Espírita Celeiro de Luz disse...

Ai que conto lindo Jorge!

Interessante é que as janelas iluminadas só podiam ser observadas no pôr-do-sol. Acho que é porque os caminhos para a iluminação interior passam pela bênção do trabalho.

Beijinhos, amado amigo.
Tenha um Sábado de muita paz.

Jorge disse...

Valerie,

Somente o trabalho interior pode acender a luz que somos, não é?

Anjo, um fim de semana de muita luz e um doce beijo!!!

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