Marcelo Tas
Nossas crianças frequentam a escola cada vez mais
cedo. Não consigo aceitar facilmente esse fato. Fui criado solto no meio da rua
até os 7 anos. Hoje, sei de alguns bebês que saem direto do útero para creches
ultrasofisticadas para que os pais retomem a vida profissional imediatamente
após o parto. Outros monstrinhos precoces, com 2 ou 3 anos de idade, são
matriculados em cursinhos de inglês (ou espanhol, alemão, mandarim...) para terem
melhores chances no mercado de trabalho, daqui a duas ou três décadas, quando
forem competir com seus atuais amiguinhos de chupeta.
Não tenho nada contra colocar filhos na escola,
evidentemente. Quero só chamar a atenção para um fato inquestionável: as lições
mais importantes da infância não aprendemos na escola, mas na vida, que, no
caso desses projetos de gente, significa... em casa. E, como sabemos, o tempo
dentro de casa anda escasso.
Hoje, nosso tempo de vida é engolido pelo trânsito nas
cidades e também pelo fato de a casa ter se tornado uma extensão do trabalho e
do lazer. Repare. Aposto que sua casa anda parecida com uma lan-house ou uma
empresa de telemarketing. Os integrantes da família vivem plugados em suas
estações de trabalho e de diversão. Confere? Se interessar, estou aqui para
sugerir uma forma de virar esse jogo. Antes de tudo, nada de fazer discurso ou
dar bronca. Criança aprende com o que você faz, não com o que você fala. Se o
seu pequeno gênio de 4 anos está a poucos estágios de zerar o joguinho Angry
Birds não adianta simplesmente mandar ele desligar o brinquedo e ir arrumar a
bagunça no quarto. Ao longo das últimas décadas, batalhando pela educação de
três filhos em épocas diferentes, aprendi uma mágica para convencê-los a se
ligar nas coisas do mundo real: a palavra “ajudar”. Nenhuma criança gosta de
receber ordem de um adulto, mas todas adoram fazer coisas do mundo dos adultos.
Sempre que você puder incluir uma criança em algo da sua rotina, experimente
dizer a palavra mágica. Pode até mesmo ser uma tarefa doméstica chata, como
lavar os pratos ou varrer a calçada. Imediatamente você perceberá o poder da
palavra “ajudar”.
“Alguém aí pode me ajudar a dar um banho nesse
cachorro?” Pode testar. É instantâneo. Não é difícil entender esse poder
mágico. O encanto reside na diferença entre pedir ou mandar e... compartilhar.
Quando você convida uma criança a “ajudar”, você oferece a ela duas coisas
preciosas: o mundo adulto e o seu tempo.
Depois que comecei a praticar o uso da palavra mágica,
transformei o ato de lavar o carro ou cuidar do jardim, por exemplo, em um dos
momentos mais divertidos e afetivos do final de semana. O ato de cuidar da casa
junto com eles gera um efeito multiplicador. As coisas mais banais e
entediantes desaparecem e, como num passe de mágica, a conexão da rede familiar
se fortalece.
Nos dias que correm – e como correm –, o tempo
compartilhado com os filhos é cada vez mais raro e precioso. Acostumadas desde
pequeninas a atuar em rede, as novas gerações têm muito a nos ensinar sobre
compartilhar. Vamos dar a eles a chance de nos ajudar a fazer as coisas de
forma diferente. Pode ser divertido e transformador.
MARCELO TAS é jornalista e comunicador de TV. Tem três
filhos: Luiza, 23 anos, Miguel, 11, e Clarice, 7. É âncora do “CQC” e autor do
Blog do Tas. Aceita com gratidão críticas e sugestões sobre essa coluna no
e-mail: crescer@marcelotas.com.br
texto - Internet
imagem - claudia.abril.com.br
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