Clarice Lispector beliscava sua amiga
Lygia Fagundes Telles quando entravam juntas num encontro literário:
– Não ri, vai! Séria, cara de viúva.
– Por quê? – perguntava Lygia.
– Para que valorizem o nosso trabalho.
Não há mesmo imagem de alguma risada da escritora Clarice Lispector. Em livros e revistas, a cena que persiste é seu olhar desafiador, emoldurado por um rosto anguloso, compenetrado e enigmático. Os lábios não se mexem, absolutamente contraídos, envelopes fechados para a posteridade.
Lispector não mostrava suas obturações, sua arcada para ninguém. Não se permitia gargalhadas para não parecer mulher superficial e leviana.
Ela percebeu que existe um imenso preconceito contra a alegria. Os críticos não a levariam a sério, dizendo que ela não era densa, não inspirava profundidade; acabariam por sobrepor a aparência faceira aos questionamentos metafísicos de sua obra.
Seu medo não era bobo. O riso
permanece perigoso. Todos temem os contentes. Falam mal dos contentes.
O riso gera inveja, ciúme, intriga: “Por que está feliz, e eu não?”.
A alegria é malvista em casa e no trabalho, sempre intrusa, sempre suspeita equivocada de uma ironia ou de um sentimento de superioridade.
Ainda acreditamos que profissionalismo é feição fechada, casmurra. Ainda deduzimos que competência é baixar a cabeça e não entregar nossas emoções.
Quanto mais triste, mais confiável. Quanto mais calado, mais concentrado. O que é um tremendo engano.
A criatividade chama a brincadeira, assim como a risada renova a disposição.
Se um funcionário ri no ambiente profissional, o chefe deduz que ele está vadiando, sem nada para fazer. Poderá receber reprimenda pública e o dobro de tarefas. Quem diz que ele não está somente satisfeito com os resultados?
Se sua companhia ri durante a transa, você conclui que está debochando do seu desempenho. Quem diz que não é o contrário, que ela não festeja o próprio prazer?
Se a criança ri no meio da aula, o professor compreende como provocação e pede para que cale a boca. Quem diz que ela não está comemorando algum aprendizado tardio?
Se o filho ri quando os pais descrevem dificuldades profissionais, a atitude é reduzida a um grave desrespeito. Quem diz que ele não achou graça do tom repetitivo das histórias?
Se a esposa ou marido ri e suspira à toa, já tememos infidelidade.
O riso é escravo dos costumes, sinônimo de futilidade e distração quando deveria ser visto como sinal de maturidade e envolvimento afetivo.
Não reagimos bem à felicidade do outro simplesmente porque ela ameaça nossa tristeza.
AUTORIA:
FABRÍCIO CARPINEJAR
texto - internet
imagem - correianeles.com
9 comentários:
Para refletir mesmo. Um texto profundo!
Um beijo
Ah! Caro amigo Jorge
Já passei por uma situação onde me criticaram dizendo que quem ri à toa é a hiena.
Aquilo, sem que eu percebesse, entrou em mim de tal maneira que aos poucos fui apagando, apagando até que um dia, numa casa espírita recebi o seguinte recado:
- Volte a sorrir. Do teu sorriso dependem muitos. Levante a cabeça e siga sua vida rindo e alegrando a vida das pessoas.
Chorei muito naquele momento.
Poucos dias depois, a mesma pessoa que havia dito que eu era hiena, num momento de preocupação com a própria filha me disse:
- Eu falei pra minha filha... olha como ela está sempre sorrindo, mesmo com problemas ela consegue passar alegria às pessoas.
Daí que eu sou alguém que dá muita risada, verdadeiras gargalhadas. Quando sorrio, é o meu coração e minha alma unidas.
Beijinhos
Oi amigo, lindo texto para reflexão...as pessoas sempre criticam as outras, sempre irão criticar, nunca se consegue agradar a todos. Por isso, não me importo com o que pensem e digam, estou sempre sorrindo mesmo, até porque nem consigo ser diferente.
Tenha uma ótima noite!
Beijos!♥
Imagino minha vida sem a avaliação do outro. Portanto, quando quero rio mesmo ou choro quando o meu sentimento me pede. O resto para mim, são aparências de que nada servem em nosso modo de ser.
Abraço, Célia.
Amigo Jorge. Já li grandes textos aqui, mas esse é um dos melhores. Realmente, a felicidade da gente incomoda muita gente. As pessoas(claro, não todas) não gostam de verem os outros felizes. Como diz uma música do Belchior: "A felicidade é uma arma quente". E Clarice Lispector, além de grande escritora, demonstrou muita visão do mundo ao dizer essas coisas que disse áouytra grande, Lygia Fagundes Telles. Um abraço.
Infelizmente isso é fato... mas ao mesmo tempo está mais do que na hora de pararmos de nos preocupar com o que vão julgar de nós e nós também pararmos de julgar os outros... acho triste uma pessoa que não sorri...especialmente quando nem denota tristeza em sua vida, mas por medo de ser não levada à sério... eu hein??? Quero mais é me fazer feliz e sorrir muito, incomode ou não!
Beijinhos querido amigo e muitos sorrisos, sei que voce também é de sorrisos rsrsr
Valéria
Oi, Jorge!
Pior é que é verdade mesmo. O riso pode parecer deboche, desdém, em ambientes sérios. Mas, penso que está mudando um pouco essa mentalidade. Em alguns eventos de RH que participei, tem se trabalhado essa questão. Entendo que devemos ser autênticos, e coerentes. Há hora pra tudo, mas, a alegria deve permear todos os momentos.
Grande abraço
Socorro Melo
É por isso mesmo que rio bastante.
Não tenho medo de rir. Se meu riso não fizer bem ao mundo, fará à minha alma.
Bjus!
Olá meu querido amigo, já dizia a minha mãe muito riso pouco siso.
Mas a maldita da inveja que entra por qual brecha que encontre aberta só para se apoderar das nossas alegrias, e infelizmente tem tanta gente falsa por este mundo fora, tanta maldade amizades sólidas que são desprezadas por outras mas atrevidas e por ai fora, muito ainda havia para falar sobre este tema mas fico por aqui.
tenha um lindo fim de semana com beijinhos de luz e muita paz...
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