quinta-feira, 26 de março de 2009

FERNANDO PESSOA


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que soque não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.


Fernando Pessoa



3 comentários:

Blogat disse...

Com a sua permissão,Jorge,estou aqui "explorando" seus posts.Este,Fernando Pessoa,com sua alma de poeta escrevia diretamente de dentro dela,depois...tinha que reler para saber o que estivera Deus a escrever...Perfeito! Alice

Jorge disse...

Alice, fique à vontade para "explorar".

Beijo,
Jorge

Blogat disse...

Sou eu!

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