Junho 25, 2008 por contadores.destorias
No Outono, como se regidas por um misterioso maestro, as folhas despem-se do verde que lhes é comum e tomam emprestadas as cores do sol.
O universo é cheio de segredos. No entanto, ao longo dos séculos, Deus foi iluminando certos homens para desvendarem os arcanos da Criação. Por exemplo, Arquimedes e Leibniz fizeram-no no campo nas ciências exactas; Hipócrates e Andreas Vesalius na medicina; e Aristóteles e São Tomás de Aquino na filosofia. As suas descobertas, e as de muitos outros, passaram para o património dos conhecimentos humanos, e hoje tanto jovens como adultos podem beneficiar-se dessa ciência nas diversas instituições de ensino disseminadas pelo mundo afora.
É bom ter presente, porém, que nem todos os ensinamentos se adquirem na escola ou na universidade; muitos deles, assaz úteis tanto para o intelecto quanto para a alma, estão postos ao alcance da nossa vista, e mesmo das nossas mãos.
Assim, ao contemplar a imensidão do oceano, podemos ter uma noção profunda a respeito da grandeza, como muitos tratados filosóficos não são capazes de dar. O cachorrinho que continua a seguir o seu dono empobrecido, mesmo quando a comida não é abundante e o trato é pouco bondoso, pode falar-nos de fidelidade melhor do que muitos escritos bem alinhavados. Para não irmos mais longe, lembremos os insuperáveis exemplos do labor da formiga, da mansidão do cordeiro e da astúcia da raposa.
Contudo, vale a pena dar uma vista de olhos também no reino vegetal.
As plantas obedecem ao ciclo das estações. Ao despontar da Primavera, os galhos das árvores cobrem-se de uma miríade de tenros e pequeninos pontos verdes, os quais de início surgem modestamente, mas, passados alguns dias, crescem com espantosa rapidez numa explosão de vida que o rigor do Inverno parecia ter sobrepujado.
As macias folhas primaveris estão, por assim dizer, na sua infância. Entretanto, o calor do Verão traz-lhes logo cores mais densas, elas tornam-se mais rígidas e o seu tamanho chega ao auge: atingem a sua maturidade. Agora exuberantes, elas, contudo, não descansam, na sua incessante tarefa de proporcionar ar e luz para a árvore que as gerou. Poderiam olhar com certo orgulho para os suculentos frutos pendentes dos ramos, pois esses doces elementos são, em parte, resultantes do seu trabalho.
Mas seguem-se as semanas. A colheita já foi feita. Um discreto vento frio começa a soprar… As folhas talvez percebam que a sua missão está encerrada, e pouco tempo lhes resta de vida. A árvore da qual todas nasceram começa a recolher a sua seiva, e o pedúnculo que prende cada uma delas ao galho torna-se aos poucos mais ressequido e quebradiço.
É o momento delas darem o seu derradeiro lance. Como se regidas por um misterioso maestro, todas as folhas, quase ao mesmo tempo e numa mágica sinfonia, despem-se do verde comum a todas elas e tomam emprestadas as cores do sol… Disputando entre si numa maravilhosa competição de beleza, umas vestem um amarelo radiante, outras um laranja incomparável, outras tingem-se ainda de um vermelho mais vivo que o sangue. Mesmo depois de terem sido arrancadas impiedosamente dos galhos, pelo vento, e atiradas ao chão, elas continuam por mais algum tempo a exibir as suas cores fascinantes, num encantador mosaico que cobre o solo.
Na hora de se despedirem da vida, tornam-se mais belas do que jamais o foram em toda a sua existência. Em vez de trazer melancolia, o seu adeus inspira-nos uma alegre aceitação das regras simples e naturais, inerentes ao ciclo da existência nesta terra.
O singelo exemplo das folhas fala por si. Se as pobrezinhas chegam aos seus últimos dias com tanta “nobreza”, porque não haveremos nós, homens, de fazer o mesmo?
Deus deu a cada ser humano uma alma imortal. Assim, muito se engana quem imagina que, quando passam a pesar sobre os ombros de uma pessoa os anos e os incómodos da velhice, a vida já não tem para ela encanto nem razão de ser.
Sem dúvida, o físico decai, mas o espírito pode e deve buscar um contínuo aperfeiçoamento; e alguém que com sinceridade de coração almeja a verdade e o bem, no entardecer da vida poderá com despretensão oferecer aos seus irmãos e semelhantes a generosa dádiva das virtudes, do bom exemplo e da experiência, cuja beleza sobrenatural supera em brilho as cores de todos os Outonos…
É bom ter presente, porém, que nem todos os ensinamentos se adquirem na escola ou na universidade; muitos deles, assaz úteis tanto para o intelecto quanto para a alma, estão postos ao alcance da nossa vista, e mesmo das nossas mãos.
Assim, ao contemplar a imensidão do oceano, podemos ter uma noção profunda a respeito da grandeza, como muitos tratados filosóficos não são capazes de dar. O cachorrinho que continua a seguir o seu dono empobrecido, mesmo quando a comida não é abundante e o trato é pouco bondoso, pode falar-nos de fidelidade melhor do que muitos escritos bem alinhavados. Para não irmos mais longe, lembremos os insuperáveis exemplos do labor da formiga, da mansidão do cordeiro e da astúcia da raposa.
Contudo, vale a pena dar uma vista de olhos também no reino vegetal.
As plantas obedecem ao ciclo das estações. Ao despontar da Primavera, os galhos das árvores cobrem-se de uma miríade de tenros e pequeninos pontos verdes, os quais de início surgem modestamente, mas, passados alguns dias, crescem com espantosa rapidez numa explosão de vida que o rigor do Inverno parecia ter sobrepujado.
As macias folhas primaveris estão, por assim dizer, na sua infância. Entretanto, o calor do Verão traz-lhes logo cores mais densas, elas tornam-se mais rígidas e o seu tamanho chega ao auge: atingem a sua maturidade. Agora exuberantes, elas, contudo, não descansam, na sua incessante tarefa de proporcionar ar e luz para a árvore que as gerou. Poderiam olhar com certo orgulho para os suculentos frutos pendentes dos ramos, pois esses doces elementos são, em parte, resultantes do seu trabalho.
Mas seguem-se as semanas. A colheita já foi feita. Um discreto vento frio começa a soprar… As folhas talvez percebam que a sua missão está encerrada, e pouco tempo lhes resta de vida. A árvore da qual todas nasceram começa a recolher a sua seiva, e o pedúnculo que prende cada uma delas ao galho torna-se aos poucos mais ressequido e quebradiço.
É o momento delas darem o seu derradeiro lance. Como se regidas por um misterioso maestro, todas as folhas, quase ao mesmo tempo e numa mágica sinfonia, despem-se do verde comum a todas elas e tomam emprestadas as cores do sol… Disputando entre si numa maravilhosa competição de beleza, umas vestem um amarelo radiante, outras um laranja incomparável, outras tingem-se ainda de um vermelho mais vivo que o sangue. Mesmo depois de terem sido arrancadas impiedosamente dos galhos, pelo vento, e atiradas ao chão, elas continuam por mais algum tempo a exibir as suas cores fascinantes, num encantador mosaico que cobre o solo.
Na hora de se despedirem da vida, tornam-se mais belas do que jamais o foram em toda a sua existência. Em vez de trazer melancolia, o seu adeus inspira-nos uma alegre aceitação das regras simples e naturais, inerentes ao ciclo da existência nesta terra.
O singelo exemplo das folhas fala por si. Se as pobrezinhas chegam aos seus últimos dias com tanta “nobreza”, porque não haveremos nós, homens, de fazer o mesmo?
Deus deu a cada ser humano uma alma imortal. Assim, muito se engana quem imagina que, quando passam a pesar sobre os ombros de uma pessoa os anos e os incómodos da velhice, a vida já não tem para ela encanto nem razão de ser.
Sem dúvida, o físico decai, mas o espírito pode e deve buscar um contínuo aperfeiçoamento; e alguém que com sinceridade de coração almeja a verdade e o bem, no entardecer da vida poderá com despretensão oferecer aos seus irmãos e semelhantes a generosa dádiva das virtudes, do bom exemplo e da experiência, cuja beleza sobrenatural supera em brilho as cores de todos os Outonos…
Carlos Toniolo
retirado de: Caminhos de espiritualidade
Um comentário:
Sou apaixonada pelas cores de outono... E nesta outra estação de nossas vidas, teremos o tom maravilhoso do outono, pela vivência anterior do verde harmônico, transformado em sabedoria. Linda paisagem! Beijos.
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