segunda-feira, 13 de julho de 2009

ANÁLISE


Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.

Fernando Pessoa, 12-1911


endereço: http://www.insite.com.br/art/pessoa/cancioneiro/51.html
imagem: internet

2 comentários:

Adelia Ester Maame Zimeo disse...

Que lindo! Ele conseguia materializar em palavras o sentir, de uma tal maneira que encanta a alma.

Blogat disse...

totalmente misturado,emaranhado,enlevado com o outro.Posto no papel.Maravilhoso!

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