quarta-feira, 23 de março de 2016

MALEDICÊNCIA: UMA DOENÇA DE PATOS



Elisabeth decidiu vir ao mundo a passeio. Logicamente antes de voltar para a matéria, lutou bravamente contra essa tendência, mas apesar do esforço inicial, ainda na infância, sucumbiu ao marasmo que lhe puxava. Ninguém pode negar, “dá muito trabalho querer ser um cisne”. Ah sim, foi isso que ela disse quando a mãe lhe contou a história do “Patinho Feio” pela primeira vez. A mãe ficou preocupada achando que a filha poderia ter algum atraso cognitivo por não ter compreendido a história, mas na verdade mal sabia ela que aquele corpinho pequeno e gordinho de criança escondia uma alma muito vivida nesse assunto. Elisabeth sabia do que estava dizendo, ser diferente, seguir por caminhos próprios, avançar nas próprias dificuldades, evoluir dá muito trabalho. Ela, porém, mesmo estando parcialmente correta em seus pensamentos não abria sua percepção para outros ensinamentos que a história trazia: apesar dos momentos de tristeza, do esforço, do medo, o patinho que se descobriu cisne teve grandes conquistas, sua trajetória valeu a pena e o desfecho feliz traz uma clara metáfora da plenitude que tanto almejamos.
                     Com a visão estreita, Elisabeth preferiu permanecer pato mesmo, fazendo tudo para ser igual à maioria, de preferência aquilo que desse menos trabalho. Profissão, relacionamento, filhos, religião, pensamentos, roupas, viagem, tudo tinha que ser absolutamente normal. Se as vizinhas comentavam e riam sobre o programa de televisão, Elisabeth ria também. Se o grupo de oração criticava o mesmo programa, Elisabeth criticava também. “-Para que fazer coisas diferentes na vida e arrumar sarna para se coçar? Para mim o que importa é minha família e o resto agente vai levando.”
                     Essa filosofia de vida, na verdade camuflava, um medo terrível que ela tinha, desses que se escondem direitinho dentro da gente, de ser excluída, ridicularizada, fofocada. Por essa razão, como se fosse uma massinha, se moldava nos padrões de cada grupo em que estava, tudo para não ser descoberta, quer dizer para não descobrir-se, perceber quem realmente era. Quando chegou aos cinqüenta anos, carregava consigo uma biografia escrita por suas próprias mãos, apesar da sensação de nunca ter escolhido o que queria, como se fosse possível alguém viver uma história que não lhe pertencia. O cisne, essa força pungente evolutiva, agora gritava em seu peito em forma de variados sintomas, não queria mais esperar nenhum segundo para ser revelado.
                      Mas Elisabeth, mesmo sofrendo com a dor de “permane- SER” pato, não queria pagar o preço de tamanha mudança. “- O que vão dizer de mim se eu fizer isso ou aquilo? Logo eu uma mulher tão distinta!” A resistência de deixar o conforto do conhecido, trouxe a doença de insistir no que já está velho, embolorado. Ela fantasiava a angústia de ter que mudar as aparências, sem preocupar-se em mudar primeiro a essência.
                     E assim empacada em suas limitações, mesmo sem perceber, Elisabeth para lidar com tamanho desconforto, começou a vomitar essa pressão que a fazia sentir-se tão pequena, inferiorizada. Cega diante de suas necessidades, passou a criticar ferozmente quem saísse dos seus padrões. Diante de frustrações, nunca assumia a responsabilidade de seus atos. Elisabeth tornou-se extremamente maledicente e em pouco tempo, no fundo sentia que ninguém mais prestava no seu conceito. Agora era ela a pata a bicar os diferentes, assumiu o papel do algoz que tanto temia encontrar nos outros, tornava-se agressiva diante daquilo que a incomodava e não media as conseqüências das suas palavras. Elisabeth maldizia como se assim pudesse excluir quem a fazia lembrar das diferenças, dos desejos, dos sonhos, dos preconceitos, da arrogância que co-habitava nela.
                      A maledicência é uma doença de patos, por isso não basta querer parar de maldizer a vida alheia, há que se buscar a conquista do ser pleno.
                     Elisabeth segue maldizendo por aí, mas como a vida é tão linda, não tardará o momento em que ela irá se deparar com a própria imagem no espelho amoroso da transformação pessoal.

Um abraço,
Bia Molica

Ps: Você poderá gostar do livro: "O vôo do cisne: a revolução dos diferentes" de José Luiz Tejon Megido, editora Gente. Uma leitura simples, mas que faz refletir.



Imagem - www.osmais.com

segunda-feira, 21 de março de 2016

VÍTIMAS DE NÓS MESMOS


“Quantas pessoas do nosso convívio conseguem nos tirar do sério? Quantas pessoas que conhecemos, conseguem
nos fazer perder a paciência? Frequentemente, usamos dessas expressões para justificar nossa descompostura ou
desequilíbrio, ao culpar fulano ou beltrano.
Agora, nos resta perguntar por que alguém consegue fazer-nos perder a paciência, ou por que alguém é capaz de provocar uma mudança em nossa atitude?

E esses nossos descontroles cotidianos acontecem em qualquer ambiente. Algumas vezes na família, outras tantas no trabalho. Ou, ainda, nas corriqueiras relações sociais. E sempre estamos a justificar que a culpa é de
alguém. Sempre estamos prontos a explicar que se não fosse essa ou aquela pessoa agir desta ou daquela forma, nada disso aconteceria.

Colocamos a culpa do descontrole em alguém, em algo e, ao nos tornarmos vítimas da situação, nada nos resta a fazer, pois afinal, o problema está nos outros e não em nós. Mas, será que somos apenas reféns das situações, e
realmente nada podemos fazer a não ser reagir a elas?

Lembremo-nos da última contenda, da última discussão na qual nos envolvemos. Nada poderíamos ter feito para evitá-la? Nada estava ao nosso alcance para que a situação fosse minimizada? Recordemo-nos do nosso último 
desentendimento familiar. Será que a maneira como agimos e nos comportamos realmente era a única possível?

Ao fazermos essa breve análise, claro fica que poderíamos ter tido outras atitudes. Poderíamos nos
calar em algum momento, ao invés de soltar a palavra ácida e corrosiva. Poderíamos buscar o entendimento
ao invés da provocação. Poderíamos suavizar o tom de voz ao invés dos arroubos no falar.

Porém, se optamos por agir de outras maneiras, não foi culpa de ninguém, nem de situação nenhuma. Foi apenas uma opção pessoal. Poderíamos ter pensado antes de falar, refletido antes de agir, mas preferimos a reação à ação. Enquanto a reação é irrefletida e calca-se nos   instintos, a ação é uma atitude pensada e amadurecida na reflexão.
Desta forma, ao dizer que perdemos a paciência, ao constatar que saímos do sério, somos responsáveis por essas atitudes. E, apenas vítimas de nós mesmos.
Jamais poderemos justificar que alguém nos faz perder a paciência. Ao contrário, somos nós que não temos a paciência suficiente para a situação que se apresenta.
Ou, ainda, de maneira nenhuma poderemos acreditar que algo ou alguém nos faz sair do sério, nos faz perder a compostura.

A atitude tomada é sempre uma opção de cada um que, perante tal ou qual situação, não consegue ou não quer comportar-se de maneira mais digna ou melhor. Assim, não
mais nos permitamos ser vítima de nossas próprias  atitudes ou reações.

Reflitamos antes do agir, pensemos mais detidamente antes de falar e, acima de tudo, compreendamos que todas as nossas relações sociais, por mais difíceis que nos pareçam, são lições abençoadas no aprendizado do amor ao próximo.”
                
              Redação do "Momento Espírita"


imagem - www.velhosabio com.br

quinta-feira, 17 de março de 2016

NAS PROFUNDEZAS


O que te contraria revela o ponto frágil de tua personalidade.
O que te irrita coloca à mostra o teu orgulho sob disfarce.
O que te melindra traz à tona o sentimento que vive em tuas profundezas.
O que consegue te provocar denuncia as imperfeições que dissimulas.
O que te desequilibra diagnostica o teu grau de intemperança.
O que te deprime te ensina sobre o que concentrar teu esforço de superação.
O que te incomoda é o que te faz reagir contra a mesmice e a indiferença.

Quase sempre, o homem se assemelha às águas aparentemente tranquilas e cristalinas de um lago, bastando, porém, que algo lhe revolva as entranhas para que elas se turvem, indicando quanto carecem ainda purificar-se.

Livro:  Pai, Perdoa-lhes
Carlos A. Baccelli, pelo Espírito Irmão José
LEEPP – Livraria Espírita Edições Pedro e Paulo


imagem - poemass.wordpress.com

segunda-feira, 14 de março de 2016

DIÁLOGO ZEN


(Discípulo) Mestre, acabei de ler sobre uma pesquisa que fizeram no Ocidente - Perguntaram o que as pessoas tem de indispensável para o seu dia a dia, e a maioria respondeu que era o seu celular!
(Mestre) Que curioso...
(D.) Um absurdo, todo esse materialismo...
(M.) Mas o que deveria ser indispensável em sua vida?
(D.) Ora, penso que meus amigos, minha família, minha mulher...
(M.) Mas como? As pessoas não nos pertencem... Essa resposta não nos serve.
O discípulo pensou por um longo momento e acrescentou:
(D.) Muito bem, agora entendi: tudo o que temos é a sabedoria! Ela sim é indispensável.
(M.) Concordo... Mas me diga: como saberemos com certeza se temos mesmo alguma sabedoria?
(D.) Ora, pela opinião dos outros, mestre - Eu mesmo afirmo: você é um sábio!
(M.) Fico imensamente grato... Mas, e se estiver enganado? Outros podem aparecer por aqui e afirmar exatamente o oposto: que sou apenas algum louco... Ou pior, um charlatão...
(D.) Mas mestre, todos que conviverem um dia que seja contigo hão de concordar que é mesmo um sábio...
(M.) Como?
(D.) Ora, porque passarão a amá-lo como todos os outros discípulos tem lhe amado.
Será que primeiramente não amariam o saber?
(M.) Mas... Amar assim tão depressa? Será que primeiramente não amariam o saber?
O discípulo acenou com a cabeça, concordando.
(M.) Então, não seria esse amor ao saber o que inicia todo esse caminho espiritual que temos percorrido juntos?
(D.) Sim mestre! Agora percebo que foi assim: primeiro me interessei por seu conhecimento, e só após nosso convívio foi que passei a amá-lo como a um pai...
(M.) E já que agora somos tão amigos, será que quando viajamos para longe um do outro o telefone não passa a ser indispensável para mantermos contato?
(D.) Bem, pode ser... Mas o telefone é apenas um objeto material...
(M.) Meu amigo, o problema não é o objeto, mas o uso que fazemos dele... De fato, não temos um telefone, não temos nossa casa e nem mesmo nossa roupa, o que temos é essa vontade tão antiga de nos conectarmos um ao outro - Eis o indispensável em nossa vida.

raph'11 (em homenagem ao blog de Aoi Kuwan: Magia Oriental)

sábado, 12 de março de 2016

FÉ, ESPERANÇA E AMOR

 
Um dia, a FÉ, a ESPERANÇA e o AMOR saíram pelo mundo para ajudar os aflitos. Quem das três, seria capaz de realizar o melhor trabalho para a glória de Deus?
À beira da estrada da vida, encontraram um homem pobre que sofria com uma doença que o deixou paralítico desde nascença. Mendigava às almas caridosas a fim de sobreviver. Diante daquela situação, a FÉ tomou a frente da Esperança e do Amor para resolver o caso. Disse:
-Esperem aqui, vou realizar minha obra na vida
daquele infeliz e tirá-lo daquela situação.
A FÉ trouxe ao homem a palavra de Deus e assim ela foi reproduzida no coração dele. Imediatamente aquele homem se rebelou contra aquela situação e usou a FÉ que tinha no coração para determinar
sua cura e, no momento em que orava, seus ossos
se juntaram e tornaram-se firmes.
Finalmente, ficou de pé e saltou de alegria.
Não precisava ficar mais à beira da estrada
para mendigar e muito menos padecer todas
as dores de antes.
Passadas algumas horas, o homem não tinha para onde ir. Nem casa, nem profissão, que lhe desse condições de se estabelecer na vida.
Neste momento a ESPERANÇA sentiu que era chegada a sua vez de trabalhar. Ela o levou para o alto da montanha e fez com que ele visse os férteis campos da terra. Desta maneira, foi mudando o seu coração e o homem entendeu que podia prosperar.
Movido pela força da ESPERANÇA, ele se pôs a caminho. Logo conseguiu um emprego, em uma fazenda próxima, e rapidamente aprendeu a cultivar a terra. Em pouco tempo, tinha juntado o suficiente para comprar seu próprio campo.
Com FÉ e ESPERANÇA, renovava suas forças a cada dia e, em poucos anos, expandiu grandemente seus negócios. Suas colheitas eram exportadas em navio, alcançando portos de todo o mundo.
Ele tinha muitos empregados e se tornou o homem mais rico da terra. A FÉ e a ESPERANÇA estavam satisfeitas com o maravilhoso trabalho que haviam produzido na vida daquele homem.
Então disseram ao AMOR:
- Não te preocupes em realizar tua obra. Vês que, juntas, mudamos completamente a vida deste homem, fazendo-o forte e próspero.
Assim, o Amor partiu em busca de alguém a quem pudesse ajudar. O império daquele homem se expandia por todo o lado, de forma que eram tantas as casas que muitas delas nem sequer conhecia.
Viajou o mundo inteiro e nada mais havia que o surpreendesse. Mas, com o passar do tempo,
o homem foi ficando triste e enfastiado.
- Tenho tudo que um homem possa desejar
- dizia ele - mas ainda me sinto vazio.
A FÉ e a ESPERANÇA conversavam o que podiam fazer para torná-lo forte como antes? Ele agora não precisava do milagre da cura nem da Esperança para crer no sucesso do seu futuro, pois era muito rico.
Então, as duas foram correndo em busca do AMOR , para lhe pedir ajuda.
O AMOR voltou com elas e realizou sua obra no
coração daquele homem.
Ao sentir AMOR , ele passou a entender Deus e a sua mais extraordinária obra. Surgiu a necessidade de ajudar outros com os mesmos problemas que os seus. A FÉ e a ESPERANÇA entenderam que, embora suas obras tivessem sido de grandeza extraordinária, com o passar do tempo, sem AMOR , tudo perdia o sentido.
A FÉ é rápida.... a ESPERANÇA permanece por mais tempo, mas o AMOR ... não acaba nunca!!!
QUE O AMOR ESTEJA SEMPRE EM NOSSOS CORAÇÕES!!!!



imagem - pt.slideshare.net

quinta-feira, 10 de março de 2016

CONSTRUIR E DESTRUIR


Para construir a floresta, a Natureza gasta séculos de serviço.
Para destruí-la, basta apenas uma chispa de fogo.

Para construir uma casa, grande número de obreiros despende longos dias.
Para destruí-la, basta um só homem, de picareta, no espaço de algumas horas.

Para construir o jarro de legítima porcelana, o ceramista utiliza tempo enorme de vigília e preparação.
Para destruí-lo, basta um martelo.

Para construir  um avião, primorosa equipe de técnicos associa prodígios de inteligência, na ação de conjunto.
Para destruí-lo, basta um erro de cálculo.

Para construir o depósito de combustíveis, o homem é constrangido a providências numerosas, alusivas à edificação e à preservação.
Para destruí-lo, basta um fósforo aceso.

Para construir uma cidade, o povo emprega anos e anos de sacrifício.
Para destruí-la, basta hoje uma bomba.

Para construir, são necessários amor e trabalho, estudo e competência, compreensão e serenidade, disciplina e devotamento.
Para destruir, porém, basta às vezes, uma só palavra.

André Luiz


texto - internet
imagem - commons.wikimedia.org

terça-feira, 8 de março de 2016

MORTE LENTA


Morre lentamente
Quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem não encontra graça em si mesmo
 
Morre lentamente
Quem destrói seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente
Quem se transforma em escravo do hábito
Repetindo todos os dias os mesmos trajeto,
Quem não muda de marca,
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou
Não conversa com quem não conhece.
 
Morre lentamente
Quem evita uma paixão e seu redemoinho de emoções, 
Justamente as que resgatam o brilho dos
Olhos e os corações aos tropeços.
Morre lentamente
Quem não vira a mesa quando está infeliz
Com o seu trabalho, ou amor,
Quem não arrisca o certo pelo incerto
Para ir atrás de um sonho,
Quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, 
Fugir dos conselhos sensatos...
Viva hoje !
Arrisque hoje !
Faça hoje !
Não se deixe morrer lentamente !
 
NÃO SE ESQUEÇA DE SER FELIZ

Martha Medeiros


texto e imagem - internet

domingo, 6 de março de 2016

O HOMEM E SEU CAMINHO....



I
O Homem abeirou-se do Sábio e perguntou-lhe:
- Como encontrarei a Luz no Caminho da minha Vida?
O Sábio respondeu-lhe:
- No Caminho da tua Vida encontrarás três Portais. Lê as regras escritas em cada um deles e cumpre-as. E agora vai! Segue o teu Caminho!
- O Homem seguiu o seu Caminho. Em breve deparou com um Portal onde estava escrito:
MUDA O MUNDO
O Homem pensou que, na verdade, se havia algumas coisas no Mundo que lhe agradavam, havia muitas outras que eram objeto do seu desagrado. E começou a sua primeira luta: os seus ideais, o seu ardor e o seu poder levaram-no a confrontar-se com o Mundo, para corrigir, para conquistar, para mudar a realidade de acordo com os seus desejos. Nisso encontrou o prazer e a volúpia o conquistador, mas não trouxe Paz ao seu coração. 
Conseguiu mudar algumas coisas, mas muitas outras resistiram aos seus propósitos.
O Sábio perguntou-lhe então:
- Que aprendeste no teu Caminho?
O Homem respondeu:
- Aprendi a distinguir entre o que está ao meu alcance e o que se lhe escapa, o que depende e o que não depende de mim.
O Sábio retorquiu:
- Isso é bom. Usa as tuas capacidades para agires no que estiver ao teu alcance e esquece o que estiver para além delas, mas se te negares ao amor, tendes a retornar ao primeiro caminho, pois só o amor abre passagem aos demais.

II
Pouco depois, o Homem encontrou o segundo Portal. Nele estava escrito:
MUDA OS OUTROS
O Homem pensou que, realmente, os outros tanto podiam ser fonte de alegria, de prazer ou de satisfação, como de dor, amargura ou frustração e rebelou-se contra tudo o que lhe pudesse desagradar nos outros. Tentou moldar as suas personalidades e corrigir os seus defeitos. Esta foi a sua segunda luta. Fê-lo com persistência, mas nunca conseguiu remover as suas dúvidas sobre a real eficácia dos seus esforços de mudar os outros.
O Sábio perguntou-lhe então:
- Que aprendeste no teu Caminho?
O Homem respondeu:
- Aprendi que os outros não são a causa nem a fonte das minhas alegrias ou das minhas tristezas, da minha satisfação ou dos meus desastres. São apenas oportunidades para todos se me revelarem. É em mim que tudo tem raízes.
O Sábio retorquiu:
- Tens razão. Os outros revelam-se-te na medida do que acordam em ti. Agradece aos que fazem vibrar em ti as cordas da Alegria e da Satisfação. Mas não odeies os que te causam sofrimento ou frustração, porque, através deles, a Vida ensina-te o que te falta aprender e qual o Caminho que ainda te falta percorrer. Nunca te esqueças... amar é aceitar o outro da forma como ele se nos apresenta.

III
Então o Homem encontrou o terceiro Portal, onde se lia:
MUDA-TE A TI PRÓPRIO
O Homem pensou que, se na realidade era ele próprio a fonte dos seus problemas, então era em si próprio que teria de trabalhar. Começou então a sua terceira luta. Tentou moldar o seu carácter, lutar contra as suas imperfeições, acabar com os seus defeitos, mudar tudo o que lhe desagradava em si próprio, tudo o que não correspondia ao seu ideal. Teve algum sucesso, mas também alguns fracassos e duvidou das suas reais capacidades.
O Sábio perguntou-lhe então:
- Que aprendeste no teu Caminho?
O Homem respondeu:
- Aprendi que há em mim aspectos que consigo melhorar e outros que não consigo alterar.
O Sábio retorquiu:
- Isso é bom!
Mas o Homem prosseguiu:
- Sim. Mas começo a ficar cansado de lutar contra tudo, contra todos, contra mim próprio. Isto nunca terá fim? Nunca terei descanso? Quero poder parar de lutar, desistir, abandonar tudo...
O Sábio prosseguiu:
- Essa é a tua próxima lição. Mas antes de prosseguires, volta-te para trás e observa bem o Caminho que percorreste. Será que não deixaste o grande amor de caminhada para trás ?

IV
Olhando para trás, o Homem viu à distância o terceiro Portal e reparou que, no lado de trás, estava escrito:
ACEITA-TE A TI PRÓPRIO
O Homem surpreendeu-se por não ter visto a inscrição quando passara o Portal no sentido contrário e pensou que, quando se luta, fica-se cego para tudo o que esteja para além da luta. Reparou então em tudo o que deixara cair, que deitara fora, enquanto lutara contra si próprio: os seus defeitos, as suas sombras, os seus medos, os seus limites, tudo antigas preocupações suas. Aprendeu então a reconhecê-los, a aceitá-los, a conviver com eles. Aprendeu a amar-se a si próprio sem voltar a comparar-se com os outros, sem se julgar, sem se repreender sem ter auto piedade, sem se achar menos valoroso.
O Sábio perguntou-lhe então:
- Que aprendeste no teu Caminho?
O Homem respondeu:
- Aprendi que odiar ou repudiar uma parte de mim próprio é condenar-me a nunca estar de acordo comigo mesmo. Aprendi a aceitar-me a mim próprio, total e incondicionalmente.
O Sábio retorquiu:
-Isso é bom! Essa é a primeira regra da Sabedoria.. Agora regressa ao segundo Portal. E toma de volta o teu grande amor que, inafortunadamente, deixaste para tras, por arrogancia, teimosia, medo, culpa e quem sabe, volupia de outras carnes.

V
Ao aproximar-se deste, o Homem leu, nas suas traseiras:
ACEITA OS OUTROS
Reparou então em todas as pessoas com quem tinha estado em toda a sua vida, quer nas que tinha amado ou com quem tinha tido amizade, quer nas que lhe tinham desagradado. Naqueles que tinha apoiado e naqueles contra quem tinha lutado. Mas a sua maior surpresa foi que se apercebeu que agora nem notava as suas imperfeições nem os seus defeitos, que antes tanto o incomodavam. Percebeu que estava apto a retomar sua caminhada , de mãos dadas, com sua melhor parte, o amor....
O Sábio perguntou-lhe então:
- Que aprendeste no teu Caminho?
O Homem respondeu:
- Aprendi que, estando em paz comigo mesmo, já nada me incomoda nos outros, nada neles temo. Aprendi a amar e a aceitar os outros, total e incondicionalmente.
O Sábio retorquiu:
- Isso é bom! Essa é a segunda regra da Sabedoria. Regressa agora ao primeiro Portal.

VI
Aproximando-se deste, o Homem leu a inscrição:
ACEITA O MUNDO
O Homem pensou que também não vira estas palavras quando ali passara no sentido contrário. Olhou à sua volta e reconheceu o Mundo que tentara conquistar, transformar, mudar. Ficou estupefacto pelo Brilho e pela Beleza de tudo, pela sua Perfeição. No entanto, era o mesmo Mundo de antes. Que mudara? O Mundo ou a sua percepção dele? Será que era este mundo que o Amor queria me mostrar e, intransigentemente, fiz questão de negar ?
O Sábio perguntou-lhe então:
- Que aprendeste no teu Caminho?
O Homem respondeu:
- Aprendi que o Mundo é o espelho da minha alma. Que a minha alma realmente não pode ver o Mundo, que se vê a si própria nele. Quando a minha alma está alegre, o Mundo parece-lhe alegre. Quando está triste, assim lhe parece o Mundo. O Mundo em si não é alegre nem triste: Está lá. Existe, é tudo. Não era o Mundo que me perturbava, mas a ideia que eu tinha dele. Aprendi a aceitar o Mundo sem o julgar, a aceitá-lo total e incondicionalmente.Ninguem é melhor do que eu,..ninguem esta no mundo para me ferir ou magoar, somente eu sou capaz de me causar infortunios ao desacreditar no amor.
O Sábio retorquiu:
- Essa é a terceira regra da Sabedoria! Estás agora em consonância contigo próprio, com os outros e com o Mundo.
Um profundo sentimento de Paz, de Serenidade, de Plenitude, encheu o Homem.. Dentro dele, o Silêncio substituiu todo o fragor das lutas que travara.
E então o Sábio concluiu:
- Agora, estás pronto para, quando chegar o momento, passares em paz o último e desconhecido Portal, aquele que vai do Silêncio da Plenitude para a Plenitude do Silêncio.

Adaptação de um texto de autor anônimo.

imagem - internet

sexta-feira, 4 de março de 2016

AS ESTRELAS DO MAR


Redação do Momento Espírita


Certo dia, um escritor que costumava caminhar pela praia em busca de inspiração observou, ao longe, algo a se movimentar.

Continuou andando na direção daquela sombra até aproximar-se o bastante para perceber que se tratava de um homem.

Quando chegou mais perto notou que ele juntava as estrelas do mar, que haviam ficado presas na areia quente da praia, e as devolvia ao mar.

Só então ele se deu conta de que havia muitas estrelas do mar espalhadas pela praia.

Espantado disse ao homem: Você não percebe que há muitas estrelas do mar por aí? Seu esforço não vale a pena. Mesmo que você trabalhe vários dias seguidos não conseguiria salvar todas elas. Então, que diferença faz?

O homem, que ainda não havia parado para lhe dar atenção, pegou uma estrela do mar, ergueu-a e, mostrando-a ao escritor disse: Para esta eu fiz diferença.

E, jogando-a ao mar, continuou sua empreitada.

O escritor observou aquele homem por mais alguns instantes e chegou à conclusão de que havia encontrado, naquele gesto simples e desinteressado de um anônimo, a inspiração que buscava.

* * *

Quando nos parecer que um pequeno gesto nobre de nossa parte não faz diferença, lembremo-nos desta singela história.

Pensemos que um único sorriso pode fazer muita diferença para alguém que se encontra desalentado.

Uma palavra de otimismo fará diferença para quem está desesperado.

Um exemplo nobre junto aos filhos, aos familiares, aos amigos, ou àqueles que nos observam de perto, pode fazer muita diferença.

A cada instante nós perdemos excelentes oportunidades de ser gentil, de perdoar, de agir com delicadeza, de ser honesto, sincero, de calar uma ofensa.

E isso tudo, no cômputo geral, faz grande diferença.

Recentemente, lemos a notícia de que é preciso resgatar os valores simples para evitar os males atuais que são a depressão, a ansiedade, o desalento, entre outros.

Essa foi a conclusão a que chegaram os psiquiatras que participaram de um Congresso de Psiquiatria Clínica.

A tão falada e útil globalização, a grande quantidade de informações que chega a cada instante, a disputa pelo poder, a competição desonesta, faz com que nos esqueçamos de ser gente.

Parece mesmo que estamos nos tornando máquinas automatizadas, incapazes de olhar para quem está ao nosso lado, senão como um ferrenho concorrente ou um adversário pertinaz.

Se todos nós repensássemos valores e nos lembrássemos de que somos seres criados para viver em sociedade e que, acima de tudo somos Espíritos imortais, filhos do mesmo Pai, talvez sofrêssemos menos.

E isso faria diferença.

* * *

Quando percebermos alguém preso nas areias quentes da solidão...

Quando notarmos alguém se debatendo no mar revolto do sofrimento...

Lembremos que todos somos estrelas do Universo, colocadas lado a lado, pelo Criador, para crescermos juntos.

E como ensinou o Mestre de Nazaré, não sejamos estrelas apagadas, mas façamos brilhar a nossa luz onde quer que estejamos.

Só então perceberemos o quanto isso faz diferença.


imagem - planetabiologia.com

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