quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

PARE DE RECLAMAR E MUDE A SUA VIDA!


Rosana Braga


Uma pessoa que deseja realmente crescer, melhorar e evoluir deve, em primeiro lugar e acima de tudo, desejar genuinamente que algumas mudanças ocorram em sua vida. Para tanto, ela deve saber que as mudanças externas, sejam em relação ao trabalho, à situação financeira, ao relacionamento com pais, filhos, namorado, enfim, sejam em qualquer área de sua vida, é essencial que haja, antes, uma mudança interna.

Ou seja, que ela mude sua forma de pensar, de agir e de se comportar diante da vida. Tem uma frase da Programação Neurolingüística (PNL) que diz assim:

“Se você continuar tendo as mesmas atitudes que sempre teve, vai continuar obtendo os mesmos resultados que sempre obteve”.Isso significa que para obter novos resultados é preciso ter novas atitudes!

Certamente, muitas pessoas pensarão: “Ah, mas isso é óbvio!” No entanto, fico impressionada com a quantidade de pessoas que tenho visto reclamando da situação em que se encontram, da vida que têm levado e das conquistas que gostariam de fazer e não conseguem... Essas pessoas parecem estar sofrendo de uma espécie de surdez, cegueira e mudez!

E mais: de certa forma, parecem estar com uma paralisia mental e espiritual. Reclamam, reclamam e reclamam, mas não se arriscam a mudar absolutamente nada! Continuam fazendo tudo igual, todos os dias, automaticamente, como se fossem máquinas, como se por trás dessas atitudes não houvesse uma nobre missão a ser cumprida, como se a vida fosse uma seqüência de atitudes sem sentido e mecânica...

E, muitas vezes, não é por falta de recursos ou de sugestões. Se a gente sugere um livro, dizem que não têm tempo. Se a gente sugere um curso, dizem que não têm tempo ou não estão com ânimo, que estão cansadas ou até que acham uma bobagem... Se a gente sugere um passeio ou um comportamento diferente, mostram-se desinteressadas ou, de repente, surgem vários compromissos do tipo: “tenho que fazer a unha”, “preciso visitar o túmulo do vizinho da minha tia”, “preciso pintar a minha casa de roxo porque disseram que dá sorte!”.

Enfim, escuto as “desculpas” que essas pessoas arrumam com praticamente o mesmo peso que as piadas acima...
Pois eu gostaria de ser um pouco menos educada e dizer umas “boas” para algumas pessoas que pensam que o ouvido dos outros é penico e desperdiçam os seus dias reclamando de tudo e nada fazem para mudar, para conquistar o que desejam (ou o que nem sabem que desejam, pois estão sempre mais interessadas em falar daquilo que não desejam mais!).

Aproveito então para sugerir em bom tom que se você não está satisfeito com a vida que tem levado, se deseja realmente mudar, melhorar, tornar-se uma pessoa mais feliz, que você comece a agir de modo diferente! Não sabe como?!? Tudo bem... isso não é motivo para desistir!

Procure ajuda, leia, faça cursos, observe pessoas bem-sucedidas, procure uma terapia (existem muitas), enfim, pare de reclamar e de poluir o planeta com suas frustrações e saiba, de uma vez por todas, que as mudanças em sua vida dependem de você. Você é o único responsável por elas!!! E, de coração, muita luz e amor para você, além de “meus sinceros parabéns!”, pois mudar é uma atitude digna de elogios!


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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

1º ANIVERSÁRIO

Amigos

Já se passou um ano desde que iniciei este blog.
Estou muito feliz pois pude conhecer pessoas, mesmo que virtuais, maravilhosas, sensíveis e de corações abertos.
Você me trouxeram mais vida à minha vida, compartilhando comigo as mensagens e comentando de uma forma carinhosa.
Pude visitar seus blogs e aprender muito, já que poucos são os meus conhecimentos. Uma verdadeira escola, principalmente a do amor aqui encontrei e tenho aprendido muito desde então. Sem contar o lado do conhecimento, onde também tenho me alimentado.
Quero dividir com vocês este bolo simbólico representando o aniversário de muitos que ainda virão (assim espero).
É um bolo que não engorda (graças a Deus!), assim podemos estar juntos trazendo e levando corações cheio de vida.

Meus amigos, mais uma vez, lhes agradeço, de coração, por este belo ano que se passou pela amizade que me ofereceram.
E que esta amizade, sincera, possamos levar aos quatro cantos levando a alegria e paz mostrando quanto as pessoas, quando querem, realmente se tornam instrumentos de Deus.

Deixo um beijo de profunda gratidão!!!

Jorge


@@@

Pode ser que um dia deixemos de nos falar...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.

Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um de outro se há-de lembrar.

Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.

Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.

Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.

Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.


Albert Einstein

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

QUANDO A DOR É MAIOR


Dor! Dor da indiferença, do desprezo, do abandono, da perda. Com certeza são dores que fazem sangrar mais que qualquer ferida. Faz nos sentir sem valor, diminuídos, sem energia ou forças sequer para respirar, e o pior, faz nos sentir seres indignos de receber amor. Coloca ainda em risco nossa saúde mental, levando-nos muitas vezes a acreditar que nunca a tivemos. Ficamos sem rumo, sem o chão para nos apoiar, porque quase sempre não temos com quem contar, um ombro para chorar. Auto-estima e amor-próprio não fazem mais parte de nossos sentimentos. Perde-se o controle das palavras, das ações e até de si mesmo.

O desejo racional nestes momentos raramente coincide com o desejo emocional. A razão pede para ir embora e a emoção pede para ficar, com o desejo enorme de encontrar alguém que venha nos salvar. Espera-se que alguém tire essa dor que dilacera tudo por dentro. Pura ilusão, pois a única pessoa que pode fazer algo por você, melhor que qualquer outra pessoa, é você mesmo, mesmo que se sinta incapaz para isso. A melhor forma de nos frustramos é esperarmos que alguém mude ou faça o que esperamos. Quando somos levados apenas pelas emoções, parece que perdemos o controle e não conseguimos discernir mais o certo e o errado. As emoções não obedecem à razão. O que fazer então, quando o conflito é gerado por tantos sentimentos? É preciso neste momento tentar descobrir a causa da dor. Se continuar chorando, gritando, controlando, cada vez mais ficará com a dor que tanto machuca. A dor é inevitável, mas a persistência do sofrimento pode ser evitada.

Deve-se também buscar a certeza de qualquer atitude que vá tomar, para que não transforme o conflito em mais sofrimento ou arrependimento, muitas vezes impossível de ser transformado. Por mais que possamos responsabilizar alguém por nossas dores, somos nós mesmos que a causamos ao permitirmos que tal situação permaneça. Podemos culpar pais, irmãos, namorados, chefes, etc., mas isto nada adianta. A dificuldade está dentro de cada um de nós por não conseguirmos mudar os fatos, que por vezes podem ser difíceis de serem aceitos. É a interpretação que damos aos acontecimentos e situações que nos leva ao sofrimento. É quando esperamos algo que nunca vai chegar. Vale lembrar da Oração da Serenidade adotada pelos Alcoólicos Anônimos no mundo inteiro:

"Que Deus me dê serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar,
coragem para mudar as que posso e sabedoria para distinguir umas das outras"

Já chorou tudo o que tinha para chorar, agora é hora de sair da posição de vítima, que não permite sair do lugar e tornar-se responsável pela própria vida. Chega de lamentações! Nada de ficar se machucando, fazendo de tudo para resgatar o que um dia acreditou. É claro que muitas vezes alguém pode realmente tê-lo machucado, porém isto não deve servir de pretexto para manter o que tanto machuca. Ninguém está livre de problemas e nem das contrariedades da vida, mas manter tudo isto ou não, só depende de cada um de você. Se uma situação é intolerável, se você se sente desprezado, rejeitado, por que manter tal situação?... Não é preciso perder sua saúde mental para só depois tentar fazer algo. O momento de reagir é agora, enquanto há o mínimo de forças. É preciso compreender que as soluções estão dentro de nós e não em outra pessoa ou situação externa. É importante às vezes sairmos fora de nós mesmos e observarmos a situação como se estivéssemos assistindo a um filme, para então podermos colocar luz onde é só escuridão.

É sua responsabilidade fazer algo para melhorar. Não espere que o outro te dê amor, carinho, atenção, colo, te faça se sentir importante, você é quem deve se dar tudo isso. Devemos aprender a aceitar o que não pode ser mudado, aprender que não podemos colocar sentimentos dentro de alguém e muito menos, colocar nossa capacidade de amar nas mãos de alguém. Não é porque o outro não valoriza o que você é e faz, que tudo isso não tem importância. Tem sim e muita, o outro é que não tem sensibilidade para perceber seu real valor. Então, para quê continuar uma situação que machuca e te enfraquece tanto?

Tudo o que temos é o dia de hoje e dependerá de você vivê-lo da forma mais harmoniosa possível. Sua força vem de você e da construção de relacionamentos saudáveis com as outras pessoas e com você mesmo. As feridas podem e devem se cicatrizar, mas não permita que essa dor que dilacera e destrói tudo por dentro permaneça te fazendo desistir de você e de viver. Lembre-se: amor, atenção, carinho, amizade, não se pede. Apenas se recebe.


é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento através de técnicas de relaxamento, interpretação de sonhos, importância das coincidências significativas, mensagens e sinais na vida de cada um, promovendo também o reencontro com a criança interior.


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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A CERCA


contadores.destorias

A Sr.ª Vitória vivia nos arrabaldes da cidade. À volta da sua casinha havia um jardim com árvores de fruto e canteiros de flores e legumes. Não morava sozinha. Tinha um cão, um Schnauzer preto e cinzento que, quando ladrava, mais parecia um barril de metal cheio de pedras a rolar por uma encosta. Chamava-se Tasso, e era com ele que a Sr.ª Vitória falava quando estava só, o que, aliás, acontecia muitas vezes. Não tinha filhos nem demais família, e já era tão idosa que dificilmente poderia fazer novos amigos. Só tinha o seu Tasso, a quem adorava. Ai de quem dissesse mal do Tasso! A fúria trazia-lhe à boca palavras feias e a ira subia-lhe aos olhos.

A Sr.ª Maria morava também nos arrabaldes da cidade. À volta de casa havia igualmente um lindo jardim bem arranjado, com relva e abetos brancos, bétulas e salgueiros. A Sr.ª Maria tinha filhos, filhas e netos, mas estes não se preocupavam com ela porque era idosa e infeliz, e não tinha grande fortuna. E, tal como a Sr.ª Vitória, tinha também um cão, um baixote a que dera o nome de Niki. Quando Niki ladrava, parecia que cem garotos traquinas estavam a brincar com apitos… todos ao mesmo tempo! Mas, para a Sr.ª Maria, o ladrar do seu cãozinho era maravilhoso e os olhos brilhavam-lhe quando ele, com o focinho cheio de terra, parava a ladrar em frente de algum buraco de ratos.

A Sr.ª Vitória e a Sr.ª Maria eram vizinhas. Os jardins estavam separados por uma cerca de ripas de madeira, mas nem a Sr.ª Vitória nem a Sr.ª Maria se aproximavam dela se a outra estivesse no fundo do jardim. Não gostavam uma da outra. Nunca tinham tentado trocar uma palavra, e os culpados disso eram Tasso e Niki.

Todas as manhãs, mal as portas das duas casas se abriam, Tasso e Niki precipitavam-se para o jardim, corriam para a cerca e, de dentes arreganhados, corriam de um lado para o outro, para cima e para baixo ao longo da cerca, latindo furiosamente: o barril de metal rouco e o apito estridente. Com o pêlo eriçado e os beiços a espumar, prontos a saltar ao pescoço um do outro a qualquer momento. E, todas as manhãs, a Sr.ª Vitória e a Sr.ª Maria apareciam à porta com má cara e de mãos trémulas, a chamar os seus queridos.

— Tasso! Tasso! Querido! Já aqui! Deixa esse cão mau — chamava a Sr.ª Vitória indignada.

— Niki, Niki! Já para aqui! Vem comer a tua carninha. Deixa esse selvagem! — gritava a Sr.ª Maria fora de si.

Quando os cães se separavam e voltavam para as donas, eram recebidos com muita efusão, acariciados e conduzidos às tigelas da comida. As portas fechavam-se com estrondo, e a Sr.ª Maria e a Sr.ª Vitória voltavam a ficar a sós com os seus cães.

— És um cão muito bonito — dizia a Sr.ª Vitória ao seu Tasso, enquanto lhe passava a mão pelo pêlo. — Isso! Ralha àquele cão mau! Tem um ladrar tão feio! Tu não! Tu és um bom cão, um cão muito bonito.

Do outro lado da cerca, a conversa era a mesma:

— Anda, Nikinho, aqui tens a tua carninha. É assim mesmo! Mostra àquele feio que aqui não há-de fazer o que quer. Um selvagem daqueles! — dizia a Sr.ª Maria ao seu cão.

A Sr.ª Maria ia em seguida ao quarto de banho, fingia que sacudia as cortinas e espreitava para o jardim. A Sr.ª Vitória ia igualmente ao quarto de banho, subia a um banquinho e, com cautela, deitava uma olhadela por cima da cerca. Depois, as duas senhoras abandonavam os seus postos de observação e ficavam satisfeitas quando não viam ninguém no jardim.

Certa noite, uma tempestade passou por aquela zona, lançou rajadas de vento sobre o jardim, sacudiu as árvores e os arbustos, abanou a velha cerca e partiu-lhe um pedaço.

O dia seguinte amanheceu calmo e sereno. Só a chilreada dos pássaros era a do costume, e assim esteve, até as portas das duas casas se abrirem e Tasso e Niki se precipitarem para fora.

Atiçaram-se um ao outro, lançaram-se contra a cerca, ladraram, espumaram, arreganharam os dentes, correram ofegantes ao longo da cerca tentando apanhar-se, voltaram para trás e tornaram a correr até à outra ponta. Até ao local onde a tempestade a tinha derrubado.

Os cães pararam. O ladrar morreu. De um momento para o outro, encontravam-se frente a frente, sem a cerca a separá-los, assustados, surpreendidos, quietos. Durante uns segundos, olharam-se, desconfiados, sem se mexerem, até que, aos poucos, as orelhas caídas se foram levantando, o pêlo eriçado se acalmou, as caudas começaram a mexer-se e a abanar. Depois, tocaram-se levemente nos focinhos, farejaram-se e começaram a andar em círculo, cada vez mais depressa, até que Tasso entrou a correr pelo jardim de Niki, com este atrás. Desataram a correr à volta da casa, de início sem fazerem barulho, tentando apanhar-se um ao outro, e passaram para o jardim de Tasso. Empurravam-se, davam cambalhotas, rolavam na relva, latiam baixinho de prazer e alegria para depois continuarem naquela perseguição desenfreada.

Quando chegou à porta, a Sr.ª Vitória estranhou o silêncio. A Sr.ª Maria também abriu a boca de admiração quando se preparava para chamar o seu queridinho, não pelo silêncio em que o jardim se encontrava, mas por ver dois cães com a língua de fora, a correr em círculo à volta das bétulas e dos salgueiros.

— Niki! — gritou indignada a Sr.ª Maria.

Os dois cães correram até junto dela, deitaram-se aos seus pés, rodearam-na, roçaram-se-lhe nas pernas, lamberam-lhe as mãos. Dispersaram em seguida, tornaram a sair para correr à volta da casa e passaram para o outro jardim, subindo os degraus da porta das traseiras, de onde a Sr.ª Vitória, decepcionada, assistia àquela correria desenfreada. Confusa, desceu ao jardim, e foi imediatamente cercada pelos cães, que corriam à sua volta, saltando e latindo, rebolando-se e batendo com o focinho nas mãos dela. Depois afastaram-se. Tasso procurou a maior macieira, no tronco da qual levantou a pata, e correu para o seu jardim, seguido por Niki, que escolheu o salgueiro do jardim da Sr.ª Maria para deixar a sua marca.

A Sr.ª Vitória aproximou-se devagar da cerca do jardim, para ver os estragos provocados pela tempestade.

A Sr.ª Maria apareceu à esquina da casa e parou, mas lá se foi aproximando da cerca, hesitante.

— A trovoada desta noite… — disse a Sr.ª Vitória.

A Sr.ª Maria acenou.

— A tempestade — acrescentou.

— Foi uma sorte não ter havido mais estragos — disse a Sr.ª Vitória.

— E não terem caído árvores, graças a Deus — disse a Sr.ª Maria.

— E não se terem estragado telhados — acrescentou a Sr.ª Vitória.

Depois olharam à sua volta.

— Mas onde é que estão os cães? — perguntou a Sr.ª Vitória.

— Talvez em minha casa. Deixei a porta aberta — disse a Sr.ª Maria, dirigindo-se rapidamente para casa.

A Sr.ª Vitória também queria segui-la para ir buscar o seu Tasso, mas não se atrevia a passar a cerca. Ficou a olhar para a vizinha, que se afastava. A Sr.ª Maria virou-se de repente.

— Venha — disse. — Vamos procurar os cães!

A Sr.ª Vitória passou a cerca estragada. Estava com uma sensação esquisita. Era como se estivesse a penetrar num mundo totalmente estranho e desconhecido.

Os cães estavam de facto em casa, em frente de um prato com carne, onde comiam ambos, um ao lado do outro. As duas senhoras pararam atrás e observavam, caladas.

— Bem, mas agora já chega! — disse a Sr.ª Vitória a Tasso, algum tempo depois. — Não vais comer tudo ao Niki! Além disso, tens de o convidar para vir a nossa casa!

Agarrou-lhe na coleira e levou-o. A Sr.ª Maria acompanhou-a até ao buraco na vedação.

— Já que sou eu a responsável pela vedação — disse — vou mandar arranjá-la.

— Isso vai custar muito dinheiro — disse a Sr.ª Maria.

— O que tem de ser, tem de ser — respondeu a Sr.ª Vitória.

Niki saiu de casa a correr em direcção ao jardim da Sr.ª Vitória.

— Estes cães não respeitam fronteiras nenhumas — disse a Sr.ª Maria, sorrindo, embaraçada. — Por mim, não precisa de mandar já compor a cerca.

— Está bem, mas o que é que eu faço com ela?

— Está tão podre. Deixe-a lá!

— Os cães iam gostar… — disse a Sr.ª Vitória.

— Hum… já deixaram de ladrar. E as fronteiras não tornam maus só os animais — disse a Sr.ª Maria.

Por uns instantes, a Sr.ª Vitória olhou em volta, e depois perguntou:

— Já tomou o pequeno-almoço?

— Eu não, só o cão — respondeu a Sr.ª Maria.

— Então venha! O meu café ainda está quente.

Wilhelm Meissel

Jutta Modler (org.)
Brücken Bauen
Wien, Herder, 1987
tradução e adaptação


endereço: http://contadoresdestorias.wordpress.com/2007/09/01/a-cerca-wilhelm-meissel/

imagem: gabriellacustico.wordpress.com


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

LEI DO CAMINHÃO DE LIXO



Um dia peguei um taxi e fomos direto para o aeroporto. Estávamos
rodando na faixa certa quando de repente um carro preto saiu do
estacionamento na nossa frente.
O motorista do taxi pisou no freio, deslizou e escapou do outro carro
por um triz!
O motorista do outro carro sacudiu a cabeça e começou a gritar para nós.
O motorista do táxi apenas sorriu e acenou para o cara.
E eu quero dizer que ele o fez bastante amigavelmente.
Assim eu perguntei: "Porque você fez isto? Este cara quase arruína o seu carro e nos manda para o hospital!"
Foi quando o motorista do táxi me ensinou o que eu agora chamo "A Lei do Caminhão de Lixo".
Ele explicou que muitas pessoas são como caminhões de lixo. Andam por aí carregadas de lixo, cheias de frustrações, cheias de raiva, e de desapontamento. A medida que suas pilhas de lixo crescem, elas precisam de um lugar para descarregar, e às vezes descarregam sobre a gente. Não tome isso pessoalmente.
Apenas sorria, acene, deseje-lhes bem, e vá em frente. Não pegue o
lixo delas e espalhe sobre outras pessoas no trabalho, em casa, ou nas ruas.
O princípio disso é que pessoas bem sucedidas não deixam os seus
caminhões de lixo estragarem o seu dia. A vida é muito curta para
levantar cedo de manhã com remorso, assim... Ame as pessoas que te
tratam
bem. Ore pelas que não o fazem.
A vida é dez por cento o que você faz dela e noventa por cento a
maneira como você a recebe!

Desconheço o autor

endereço: internet
imagem:
garagem83.com


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

VIDAS TRANSFORMADAS


Foi no ano de 1921 que Lewis Lawes assumiu a direção da prisão de Sing Sing, considerada uma das mais rigorosas.

Casado e com 3 filhos pequenos, aconselhou sua esposa para que jamais adentrasse os muros da prisão.

Mas Catherine, jovem e maravilhosa, não deu atenção ao conselho. Quando o primeiro jogo de basquete foi realizado na prisão, ela compareceu.

E levou os 3 filhos. Atravessou a quadra e se sentou ao lado dos internos, nas arquibancadas, acomodando as crianças ao seu lado.

Ela costumava dizer:

“Meu marido e eu vamos tomar conta desses presos. E eles, com certeza, vão tomar conta de mim.”

Ela fez amizade com os prisioneiros. Conheceu suas histórias. Importou-se com eles.

Certo dia soube que um presidiário, que cumpria pena por assassinato, estava cego.

“Você lê em braille?” Perguntou ela, quando o foi visitar.

“O que é braille?” – ele indagou.

Ela o ensinou a ler. Anos depois, recordando o fato, ele ainda se emocionava, falando com afeto sobre ela.

Durante 16 anos, Catherine transformou a terrível prisão em uma instituição humanitária.

Então, no ano de 1937, ela sofreu um acidente de carro e morreu.

Na manhã seguinte ao desastre, o senhor Lawes não foi para o trabalho e o diretor interino o substituiu nas tarefas.

Logo, a prisão inteira percebeu que alguma coisa estava errada.

No outro dia, todos já sabiam que Catherine morrera e que seu corpo se encontrava num caixão, em sua residência, que ficava apenas a 1.200 metros da prisão.

Quando o diretor interino fazia sua inspeção rotineira, surpreendeu-se em ver um grupo de prisioneiros, amontoados como animais diante do portão principal.

Eram homens que tinham cometido crimes medonhos. O diretor interino se aproximou e descobriu que havia lágrimas nos olhos deles.

Eram lágrimas de sofrimento e tristeza.

Calados, eles diziam pelas expressões, que desejavam ardentemente ver Catherine uma última vez.

Aquele homem sabia o quanto todos os prisioneiros amavam a mulher que partira repentinamente.

Por um instante, pensou. Depois, virou-se, encarou o grupo e tomou uma decisão:

“Muito bem. Vocês podem ir até a casa de Catherine”.

Abriu o portão e os criminosos foram saindo, sem escolta, na direção da residência do diretor Lawes.

“Eu quero ver todos vocês de volta esta noite!” – disse ainda o diretor interino.

Eles seguiram em silêncio, ficaram na fila, junto a outras tantas pessoas, e prestaram suas últimas homenagens a Catherine Lawes.

Imagina quantos voltaram?

Quando o dia terminou, todos eles, sem exceção, retornaram para a prisão.

Não acreditemos na esterilidade e no endurecimento do coração humano.

Ao contato do amor verdadeiro, que propicia a felicidade, desde a vida terrestre, as criaturas se modificam.

O amor é um ímã a que não podem resistir mesmo os maus, ou pessoas consideradas de má vida. Ao contato do amor fecundam-se os germens que existem, em estado latente, nos corações humanos.

O amor tudo transforma onde quer que floresça.



Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no cap. Vidas transformadas, de Tim Kimmel, do livro Histórias para o coração, de Alice Gray, ed. United Press e cap. XI, item 9 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. FEB.


endereço: Momento Espírita
imagem:
deysemelo.com


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

SUPERANDO A RAIVA



Há muito tempo atrás existiu um samurai que dedicou boa parte da sua vida a procurar o assassino de seu mestre para vingar a sua morte. Um dia ele o encontrou, sacou sua espada e se aproximou para matá-lo. O assassino, vendo que ia morrer cuspiu na cara do samurai e começou a xingá-lo. O samurai então guardou a katana, deu as costas e foi embora.
Quando interrogado sobre o porque da sua atitude o samurai respondeu que não se deve lutar impulsionado pela raiva...

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Trecho do texto de Osho sobre a raiva:

"Na próxima vez que você ficar raivoso, vá e corra ao redor da casa por sete vezes e depois disso, sente-se sob uma árvore e observe para onde a raiva foi. Você não a reprimiu, você não a controlou, você não a jogou sobre outro alguém - porque se você a joga sobre alguém uma corrente é criada porque o outro é tão tolo quanto você, tão inconsciente quanto você. Se você joga a raiva no outro, e se ele for uma pessoa iluminada, então não haverá problema; ele irá lhe ajudar a jogá-la e liberá-la e a passar por uma catarse.

Porém o outro é tão ignorante quanto você - se você jogar a raiva sobre ele, ele irá reagir. Ele irá jogar mais raiva sobre você, ele está tão reprimido quanto você. Então surge uma corrente: você joga sobre ele, ele joga sobre você e ambos se tornam inimigos."


endereço: http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2003/07/superando_a_rai.html

imagem: anjoseguerreiros.blogspot.com


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

LIÇÃO VIVA



Era uma tarde de domingo ensolarada na cidade de Oklahoma. Bobby Lewis aproveitou para levar seus dois filhos para jogar mini-golf.
Acompanhado pelos meninos dirigiu-se à bilheteria e perguntou: - Quanto custa a entrada?
O bilheteiro respondeu prontamente: - São três dólares para o senhor e para qualquer criança maior de seis anos.
- A entrada é grátis se eles tiverem seis anos ou menos. Quantos anos eles têm?
Bobby informou que o menor tinha três anos e o maior, sete.
O rapaz da bilheteria falou com ares de esperteza: - O senhor acabou de ganhar na loteria, ou algo assim? Se tivesse me dito que o mais velho tinha seis anos eu não saberia reconhecer a diferença. Poderia ter economizado três dólares.
O pai, sem perturbar-se, disse: - Sim, você talvez não notasse a diferença, mas as crianças saberiam que não é essa a verdade.

Tantas vezes, para economizar pequena soma em moedas, desperdiçamos o tesouro do ensinamento nobre e justo. Nesses dias de tanta corrupção e descaso para com o ser humano, vale a pena refletirmos sobre que exemplo temos sido para os outros.
Sejamos, assim, cartas vivas de lições nobres para serem lidas e copiadas pelos que convivem conosco.

Desconheço o autor


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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

HUMOR - MAFALDA (QUINO)


Estou iniciando, a partir de hoje, postagens com tiras de humor, para alegrar um pouco mais este cantinho. Estarei alternando com mensagens, para variar um pouco.
Hoje, postando uma tira da Mafalda (sou grande fã) do grande cartunista argentino Quino.
Espero que gostem.

Beijo,
Jorge


sábado, 6 de fevereiro de 2010

OS QUE NUNCA PARTEM



Eu me lembro que quando era muito jovem, ouvia os adultos comentarem: fulano partiu.
Esta era a forma que eles achavam menos sofrida de falar que alguém havia morrido, principalmente quando estavam perto de crianças.
Era um jeito delicado que eles tinham de citar a morte sem que ela parecessetão chocante.
Cresci e comecei também a falar assim - fulano partiu -
acabei achando menos dolorido, menos violento se referir à morte dessa maneira.
Quando se diz que alguém morreu, dá a impressão que se acabou, desapareceu e
imaginar que alguém que queremos bem acabou ou desapareceu pra sempre é terrível.
Dói mil vezes mais do que precisar enfrentar a sua própria ausência.
Partiu já é diferente, dá uma sensação de que em algum ponto da vida nos reencontraremos
com essa pessoa querida novamente.
Fica mais fácil imaginar que ela viajou, uma viagem sem data pra voltar, mas com retorno garantido.
Enfim, descobri recentemente, que existe uma outra categoria dentro desse universo.
São aqueles que nunca morrem e, portanto, jamais partem.
São aqueles que embora desapareçam de nossas vistas, eternamente se fazem presentes
em nossa memória e nosso coração.

Os que nunca partem são as pessoas que nortearam nossos dias, colocaram um significado
importante neles e deixaram uma marca tão profunda em nós que não importa onde estejam,
porque ao nosso lado, de alguma forma, sempre estarão.
Morrer, partir, são coisas simples, coisas do dia-a-dia.
Acontece toda hora,em todo lugar, com todas as pessoas.
Os que nunca partem e os que nunca passam pela dor de assistir alguém querido partir são os felizardos dessa vida.
Dores momentâneas, saudades e ausências à parte, felizes daqueles que amaram alguém nessa vida a ponto de jamais deixá-los partir de seus corações.
Se quando eu me for, por desígnio de Deus, uma única pessoa não me deixar partir me guardando dentro do seu peito,eu direi que valeu a pena ter passado por aqui e que minha estada nessa vida não foi em vão.
Mas enquanto ainda estou por aqui, só tenho a dizer que dentro de mim moram pessoas que nunca deixei que partissem verdadeiramente, assim,
como não deixarei que partam, jamais, algumas que ainda estão por aqui.
Os que nunca partem são aqueles que descobriram o segredo de brilhar na terra,
mesmo antes de chegarem ao céu e se tornarem estrela.

Silvana Duboc

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imagem: gamedesire.com


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

QUEM EU SOU FAZ A DIFERENÇA


Uma professora de determinado colégio decidiu homenagear cada um dos seus
formandos dizendo-lhes da diferença que tinham feito em sua vida de
mestra.
Chamou um de cada vez para frente da classe. Começou dizendo a cada um a
diferença que tinham feito para ela e para os outros da turma.
Então deu a cada um uma fita azul, gravada com letras douradas que
diziam: "Quem Eu Sou Faz a Diferença"..
Mais adiante, resolveu propor um Projeto para a turma, para que pudessem
ver o impacto que o reconhecimento positivo pode ter sobre uma comunidade.
Deu aos alunos mais três fitas azuis para cada um, com os mesmos dizeres,
e os orientou a entregarem as fitas para as pessoas de seu conhecimento que
achavam que desempenhavam um papel diferente. Mas que deveriam poder
acompanhar os resultados para ver quem homenagearia quem, e informar esses
resultados à classe ao fim de uma semana.
Um dos rapazes procurou um executivo iniciante em uma empresa próxima, e o
homenageou por tê-lo ajudado a planejar sua carreira. Deu-lhe uma fita
azul, pregando-a em sua camisa. Feito isso, deu-lhe as outras duas fitas
dizendo:
"Estamos desenvolvendo um projeto de classe sobre reconhecimento, e
gostaríamos que você escolhesse alguém para homenagear, entregando-lhe uma
fita azul, e mais outra, para que ela, por sua vez, também possa
homenagear a uma outra pessoa, e manter este processo vivo. Mas depois, por favor, me
conte o que perceber ter acontecido."
Mais tarde, naquele dia, o executivo iniciante procurou seu chefe, que era
conhecido, por sinal, como uma pessoa de difícil trato. Fez seu chefe
sentar, disse-lhe que o admirava muito por ser um gênio criativo. O chefe
pareceu ficar muito surpreso. O executivo subalterno perguntou a ele se
aceitaria uma fita azul e se lhe permitiria colocá-la nele. O chefe
surpreso disse: "É claro." Afixando a fita no bolso da lapela, bem acima do
coração, o executivo deu-lhe mais uma fita azul igual e pediu: "Leve esta outra
fita e passe-a a alguém que você também admira muito." E explicou sobre o
projeto de classe do menino que havia dado a fita a ele próprio.
No final do dia, quando o chefe chegou a sua casa, chamou seu filho de 14
anos e o fez sentar-se diante dele. E disse: "A coisa mais incrível me
aconteceu hoje. Eu estava na minha sala e um dos executivos subalternos
veio e me deu uma fita azul pelo meu gênio criativo. Imagine só! Ele acha que
sou um gênio! Então me colocou esta fita que diz que "Quem Eu Sou Faz a
Diferença". Deu-me uma fita a mais pedindo que eu escolhesse alguma outra
pessoa que eu achasse merecedora de igual reconhecimento." Quando vinha
para casa, enquanto dirigia, fiquei pensando em quem eu escolheria e pensei em
você..
Gostaria de homenageá-lo. "Meus dias são muito caóticos e quando chego em
casa, não dou muita atenção a você. As vezes grito com você por não
conseguir notas melhores na escola, e por seu quarto estar sempre uma
bagunça. Mas por alguma razão, hoje, agora, me deu vontade de tê-lo à
minha frente. Simplesmente, sabe, para dizer a você, que você faz uma grande
diferença para mim. Além de sua mãe, você é a pessoa mais importante da minha vida.
Você é um grande garoto filho, e eu te amo!"
O menino, pego de surpresa, desandou a chorar convulsivamente sem parar.
Ele olhou seu pai e falou entre lágrimas:
"Pai, poucas horas atrás eu estava no meu quarto e escrevi uma carta de
despedida endereçada a você e à mamãe, explicando porque havia decidido
suicidar e lhes pedindo perdão. Pretendia me matar enquanto vocês
dormiam. Achei que vocês não se importavam comigo. A carta está lá em cima, mas
acho que afinal, não vou precisar dela mesmo."
Seu pai foi lá em cima e encontrou uma carta cheia de angústia e de dor.
O homem foi para o trabalho no dia seguinte completamente mudado. Ele não
era mais ranzinza e fez questão de que cada um dos seus subordinados
soubesse a diferença que cada um fazia. O executivo que deu origem a isso
ajudou muitos outros a planejarem suas carreiras e nunca esqueceu de lhes
dizer que cada um havia feito uma diferença em sua vida... Sendo um deles
o filho do próprio chefe.
A conseqüência desse projeto é que cada um dos alunos que participou dele
aprendeu uma grande lição. De que "Quem Você É Faz sim, uma Grande
Diferença".
Eis aqui a sua fita azul!


Desconheço o autor


endereço e imagem: internet


terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A ALEGORIA DA CAVERNA


Platão expôs o mito da caverna no Livro VII de A República. Possui a forma de um diálogo imaginário, do qual participam o filósofo Sócrates e os irmãos de Platão, Glauco e Adimanto. No livro VII Sócrates conta a Glauco o famoso mito da caverna como um retrato da ignorância humana. Pode (e deve) ser encarada como a metáfora da nossa vida, que, como os Budistas bem sabem, é uma ilusão, um pálido reflexo da Realidade. Nos mostra o quão difícil é nossa ascensão, mas o quanto ela é gratificante para os que perseveram e alcançam o topo. Também nos ensina, através da lógica, que é muito melhor ser humilde servidor na luz do que um Rei nas trevas. E também a dureza que é tentar ajudar os que ficam lá embaixo, por estarem eles se deleitando tão somente com aquilo (o ilusório), quando há muito mais para se ver! E fica a mensagem: não se pode tirá-los à força! Tudo isso é o que compõe a base moral do espiritismo, e Sócrates poderia ser considerado o primeiro doutrinador espírita do mundo.

Vamos ao trecho do livro A República:

Sócrates - Agora imagina a maneira como segue o estado das nossas naturezas relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de perna e pescoço acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as corrente os impedem de voltar à cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.
Glauco - Estou vendo.
Sócrates - Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie, que o transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.
Glauco - Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.
Sócrates - Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e de seus companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica defronte?
Glauco - Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?
Sócrates - E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?
Glauco - Sem dúvida.
Sócrates -Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?
Glauco - É bem possível.
Sócrates - E se a parede do fundo da prisão provocasse eco, sempre que um dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?
Glauco - Sim, por Zeus!
Sócrates - Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos fabricados?
Glauco - Assim terá de ser.
Sócrates - Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se,enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?
Glauco - Muito mais verdadeiras.
Sócrates - E se o forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Não desviará ele a vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que estas são realmente mais distintas do que as que se lhe mostram?
Glauco - Com toda a certeza.
Sócrates - E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encosta rude e escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não sofrerá vivamente e não se queixará de tais violências? E, quando tiver chegado à luz, poderá, com os olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora denominamos verdadeiras?
Glauco - Não o conseguirá, pelo menos de início.
Sócrates - Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos. Depois disso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar mais facilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio céu do que, durante o dia, o Sol e sua luz.
Glauco - Sem dúvida.
Sócrates - Por fim, suponho eu, será o sol, e não as suas imagens refletidas nas águas ou em qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver e contemplar tal qual é.
Glauco -Necessariamente.
Sócrates - Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa de tudo o que ele via com os seus companheiros, na caverna.
Glauco - É evidente que chegará a essa conclusão.
Sócrates - Ora, lembrando-se de sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa e daqueles que foram seus companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com a mudança e lamentará os que lá ficaram?
Glauco - Sim, com certeza Sócrates.
Sócrates - E se então distribuíssem honras e louvores, se tivessem recompensas para aquele que se apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que melhor se recordasse das que costumavam chegar em primeiro ou em último lugar, ou virem juntas, e que por isso era o mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse a inveja daqueles que, entre os prisioneiros, são venerados e poderosos? Ou então, como o herói de Homero, não preferirá mil vezes ser um simples lavrador, e sofrer tudo no mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?
Glauco - Sou de tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.
Sócrates - Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar: não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol?
Glauco - Por certo que sim.
Sócrates - E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que seus olhos se tenham recomposto, pois se habituar à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros se riam à sua custa e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo?
Glauco - Sem nenhuma dúvida.
Sócrates - Agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar, ponto por ponto, esta imagem ao que dissemos atrás e comparar o mundo que nos cerca com a vida da prisão na caverna, e a luz do fogo que a ilumina com a força do Sol. Quanto à subida à região superior e à contemplação dos seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma para a mansão inteligível, não te enganarás quanto à minha idéia, visto que também tu desejas conhecê-la. Só Deus sabe se ela é verdadeira. Quanto a mim, a minha opinião é esta: no mundo inteligível, a idéia do bem é a última a ser apreendida, e com dificuldade, mas não se pode apreendê-la sem concluir que ela é a causa de tudo o que de reto e belo existe em todas as coisas; no mundo visível, ela engendrou a luz; no mundo inteligível, é ela que é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e é preciso vê-la para se comportar com sabedoria na vida particular e na vida pública.
Glauco - Concordo com a tua opinião, até onde posso compreendê-la.

__________________

É duro ter de se readaptar à luz e voltar a enxergar as sombras, após ter podido vislumbrar a realidade. O olho não se acostuma como antes, e perde-se a graça em ficar olhando sombras na parede. Mas, infelizmente ainda estamos acorrentados...


endereço: http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2002/11/a_alegoria_da_c.html imagem: profetico.com.br


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